quinta-feira, 15 de julho de 2010

Eu, que só desejei me encher de felicidade...

                               
                                                             Nicoletta Ceccoli
                                                    ♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•

Talvez passe... assim como todas as coisas passarinho que voaram sobre minha cabeça comendo minhocas, e depois foram para longe.

Mas a dor, enquanto algo em carne viva sangrando abundantemente, só encontra refúgio nas palavras.

Alguns vão dizer sobre meu exagero. Outros sobre a minha insistente expressão dramática. Outros falarão do ego arragaido que escurece a minha visão empática. Alguns falarão sobre a superficialidade marcando as pegadas da minha existência. Outros falarão da minha tola superioridade e rirão de tamanha aberração. Outros falarão da minha insistência na inverdade.
Um ou outro sorriso, será compreensão.

E é pra estes que escreverei. Primeiro, escreverei por mim. Nada mais natural, já que sou, como constataram, um ser vidrado no meu umbigo e completamente apático ao meio circundante.

Se não há utilidade em minhas palavras, que tenha serventia ao meu próprio expurgo.

Ser dissecada em cima de uma mesa fria, não é algo que cause prazer. E muita análise, pode trazer uma interferência drástica do superego em nossa psíque, através do sentimento de culpa.

Sinto que há um certo prazer sádico em culpar e achar culpados. Alguns chamam de justiça. Os dedos apontam numa só direcão. Risadas soam cínicas, falando por trás de algo que não possui dimensão e nem pode ser analisado pela superfície.

Isso é o que mais causa dor. E todos os abraços que eu dei? E todos os sorrisos que gentilmente distribuí? E os ouvidos preocupados e estavam atentos às histórias de cada um? E todas as vezes que pronunciei a palavra amizade?

Amizade.

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O cursor pisca esperando o dedo digitar as próximas palavras, mas não aparece nada. Fica ali, a palavra soando no meu sentir, raspando seu significado nas paredes arranhadas.

O que mais dói, junto com todas as outras dores que dóem muito, é este baú que tanto tentei preservar, ter sido escancarado e jogado ao mar com todo o seu conteúdo.

Dói também, tudo ter sido em vão.

Dói, não acreditarem no meu intuito digno.

Dói, as bocas que não escolheram palavras e jogaram larvas nas minhas melhores plantações.

Dói, o meu medo que paralisou a  luta pela verdade.

Dói, acreditarem que não houve importância.

Dói, só perceberem o absurdo, e não a mágica do sentimento que brotou.

Queria ser um furacão.
E destelhar as casas;
E quebrar os vidros;
E suportar os riscos;
E romper a maldição.

Queria voltar no tempo, e jamais ter me deixado levar por ondas tão aparentemente seguras em águas sedutoras.
Nenhuma mereceu sequer um terço das lágrimas que derramo hoje e as outras morimbundas que escorreram no passado.

E por mais que eu tente não acreditar que foi pecado, sempre há o outro lado acusando meu lado torto.

Juro, estou cansada. Cansada de ser julgada por corações ocos, que ouviram de minha própria boca os meus murmúrios desejosos de felicidade.

Quem eu mais me importo, já não mais se importa.

Se há alguma espécie de alívio ou redenção, deixo aos seus pés o meu lamento. Tudo que não fiz foi fruto das melhores intenções.

Não há conforto para a minha dor, mas eu sei que a cada escolha a vida nos obriga à uma renúncia.

Renuncio o que restou.

Restos. Se ainda resta sobrevida, deixem-me engolir o restante da minha dignidade.

Deixem-me.

Vou chorar para sempre saudade da  amizade que se foi.
Vou chorar para sempre saudade da verdade que um dia acreditei existir.

Eu, que só desejei me encher de felicidade...

Hoje, choro de saudade.

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Últimas palavras.
A novela  acabou.

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