quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Para onde vai o grito dos que choram?



Seria apenas mais uma manchete de jornal, assim como as tantas que ecoam nas vozes dos jornalistas que nem nos chocam ou indignam como deveria, já que a freqüência é algoz banalizadora de qualquer compadecimento.



Seria apenas mais uma manchete de jornal, uma tragédia familiar marcada pela entrada fatal de um inimigo público perverso e oculto, que destrói sonhos, arranca a humanidade, despedaça a vida. A “droga” mais pesada e sádica é a “droga” da ruína familiar.

Seria apenas uma manchete de jornal... se eu não tivesse diante de seu caixão prometido não deixar essa história em vão, de perpetuar seu nome como espada que luta e implora por paz.

Se eu não tivesse visto seu rosto sem vida, coberto de tantas flores contrapondo-se àquela feição serelepe e entediada que apresentava todos os dias pela manhã.

Para muitos, apenas uma notícia de assassinato. Para mim, a perda de um aluno. Para os que choram, a falta total de consolo.

Nestes dias em que muito ou quase tudo parece perder o sentido, me pergunto, retorço minhas entranhas em perguntas sem resposta:

-Para onde vai o grito dos que choram?

-Onde mora o eco oco do absurdo?

-Qual a extensão deste desamor que paira como nuvem pesada sobre nossas cabeças?

-Há cura para o mal, que de tão normal, tornou-se banal?

Ali, diante de seu caixão, Mateus, todos rezaram uma oração. As palavras pronunciavam que as respostas estavam guardadas no templo de Deus. Que somente Ele, e somente o tempo, o senhor da cura e dos milagres, guardavam as respostas.

E que a nós cabia aceitar.

Aceitar sim. Se calar, jamais!

A boca que cala, consente. Não podemos deixar que o nosso grito se perca na imensidão dos horrores. Que ele soe por todos os cantos, que ele perturbe os vizinhos, a cidade inteira, dos mendigos aos milionários, que acenda as luzes, que apague os fogões, que todos saiam à janela e presenciem todas as vozes gritando NÃO!

Alguém emocionado disse, por debaixo da torrente de águas, que ninguém estava ali naquele momento por coincidência. Que haveríamos de absorver algo de importante daquele momento. Eu, levada ali por um “acaso”, chorei. Por ti, querido, tão jovem, tão cheio de sopro de vida, sendo esvaziado de maneira tão enlouquecida e cruel. Por mim, ali levada para absorver mais um aprendizado de vida, para acordar um erro permanente e adormecido. Por todos nós, que nos perdemos em pequenezas cotidianas, que reclamamos do pouco ou quase inexistente problema que possa nos perturbar, que choramos sem fé, que olhamos ao redor, mas não conseguimos enxergar com o coração e alma.

De tudo, daquela tarde tão atípica e cinzenta, ficou fixado em minha alma as palavras de sua bisavó ditas em meio a tanta dor; dor esta que jamais a minha mão colada à dela poderia consolar...palavras que referiam-se aos algozes de sua morte:

-Se não se aprende pelo amor, se aprende pela dor.

Que o amor reine em nossas ações. Que a boca jamais se cale, quando quem grita é a paz implorando voz em nossos corações.

Amém milhões de vezes.

Por Mateus, por mim, por todos nós, por todos aqueles que já não estão mais conosco, vítimas do absurdo...

Amém.