domingo, 25 de julho de 2010

Coração universo

Nicoletta Ceccoli

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Imagine um poço. Fundo... mais fundo que toda a extensão infinita do universo.

Há de se imaginar o que lá habita. Há de se imaginar a profundidade que dita o mistério de todos os mistérios. E por mais que a inteligência seja capaz de prever, ou de chegar perto de todas as respostas, a vã filosofia de nossa existência, nos condena à uma pequena partícula de todas as verdades. Impossível saber. Impossível ser onipresente. Impossível ser onisciente.

E qual a chave que abre o portal de todos os segredos ocultados por um misterioso advir de eternidade? E qual a chave da saudade?
E qual a chave da sanidade destes dias sem sentido?


E do que é feita esta saudade que não tem sobrenome, tamanho, não cabe numa caixa, não tem cor ou sabor, nem suporta a dor da falta de destinatário?
É uma saudade que nem existe no dicionário.

A saudade das coisas que jamais aconteceram. Dos momentos ocultados, jamais revelados por um sopro de realidade. Sobrevoaram na imaginação, sonhando um dia tocarem o chão.

Queria apenas, voar... e lá em cima, ser capaz de tocar as nuvens. Colorí-las com pequenas alegrias. Enchê-las de água, com algumas tristezas. Relampejar, para chocoalhar mentes e corações limitados.
E lá de cima, enxergar o poço. Enxergar além da superfície tátil de todas as coisas que não fazem sentido. E lá no fundo, encontrar o seu sorriso. O sorriso da minha saudade e da minha paz, ainda sem destinatário, mas digno de todos os bons sentimentos que alguém é capaz de entregar.

Um dia, fruto desta saudade sem nome e sem tamanho, eu receberei como um presente divino, a chave do portal que abre todas as verdades ocultadas. Elas todas serão reveladas;  açucaradas ou não,  mostrarão o caminho de toda a sabedoria da vida.

Provo a bebida da ignorância. Não saber, pode ser injusto. Mas desconhecer detalhes do que lhe é ocultado pelo destino, pode aliviar os caminhos e promover o arbítrio. Pode trazer mais chuva, em dias de calor, e mais sol em dias de frio.

A verdade, cortante como uma faca, liberta. Mas acorrenta, os corações mais amedrontados pelo 'não saber viver'.

Quando acordar, quero apenas sorrir e chorar. Saberei que estou longe, muito longe do poder de Ser. Mas muito perto, perto demais de Estar. E que ser e estar, só vai depender da minha capacidade de sorrir e chorar, sem medo de sorrir; e novamente, sem medo de chorar. Sem medo, principalmente, de re-co-me-çar.

Recomeço.

Meço meu coração. Ele tem o tamanho do universo. Porque é digno, de cair e levantar. De sempre, sempre, sempre, sempre re-mo-çar.

Remoço.

E o poço?

Já não importa mais. Enquanto vida for vida, jamais saberei a dimensão do profundo oculto do tudo.

Contento-me então, com um coração universo.
Ele é do tamanho do que eu acredito.

E no que eu acredito?

Eu só acredito no amor.

Só o amor me faz acreditar. Ainda há?

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sábado, 24 de julho de 2010

Saciar

Van Gogh
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Era mulher no portão às quatro horas da tarde; em uma hora que o sol já não mais arde, porém morosamente inicia a suave despedida.

De vestido carmim, sandálias ocre e cabelos cor de mel, ela ardia como céu inundado de fantasia rubra do entardecer.

Esperava há horas a saciedade  lhe visitar. Alguém lhe disse que chegaria após o sol baixar.

Logo, a noite chegaria enluarada, se despindo do dia e se enudecendo. Convenceria com suas sombras de luz, que estamos sedentos de todas as paixões latentes no ar; as paixões prontas para eclodir em reflexos.

De minuto em minuto, esperava.

E a saciedade não vinha. E de espera em espera, e de batida em batida do pé acompanhando sua impaciência, a saciedade mandava recado, mas não aparecia.

Quando a noite caiu, cansada, virou-lhe às costas. Foi buscar no poço da saudade, que ficava no quintal de sua casa. Chegando lá, descobriu que aquela água já não mais existia.

Estava na hora de caminhar. Quem sabe lá na frente, ela não veria um céu de estrelas cintilantes sorridentes, na forma de dois olhos a lhe fitar...

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Laços e estilhaços

Nicoletta Ceccoli
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Compartilho a tua dor.
Como vidro quebrado, estilhaçada por uma verdade que lhe foi negada.
Compartilho a sua incompreensão.
As dúvidas permeando às margens do seu coração, dia a dia.

Compartilho tua solidão.
Estive no  escuro das tuas piores lembranças de infância para te confortar.
Compartilho a sua ação.
De expor olho no olho, o que já  não podia suportar.

Compartilhava mesmo antes de saber.
Já imaginava, que se viesses a conhecer todos os mistérios que rondavam assustados com medo de serem descobertos, não haveria muito o que compartilhar.

Compartilho cada lágrima decepcionada.

Se a raiva te permitir acreditar, compartilho cada parte que te machuca.

Só não compartilho a raiva. As palavras ásperas carregando julgamentos pesados de caráter ou intenção. Não compartilho a negação de tudo de bom que já lhe ofereci, todos os sorrisos que te fiz sorrir, e todo o amor que eu dediquei, mesmo que cegas de irritação, ouses dizer que não.
Não compartilho sua expressão. Fria, distante e fechada para uma verdadeira aceitação. Insensível aos possíveis motivos, aos meus temores de preservação do que agora me é negado.

Se a vida é tão unilateral da maneira como enxerga, eu quero me transportar pra outra dimensão.

Onde haja, apesar da dor, um sopro de respiração por mais compreensão.
Onde haja, apesar dos erros, possibilidade de amanhã se tornarem acertos.
Onde haja, apesar da ferida, mais um pouco de vida; a alegria de dias mais felizes.

Nego a culpa. Mas não omito meu erro. Apenas os coloco dentro de uma caixa ampla e colorida; a caixa dos erros coloridos das melhores intenções.

Se a minha fraqueza é a covardia e a hesitação da verdade, talvez a sua seja a hesitação da compreensão e excesso de coragem. Julgue, puna, magoe-se, remoa, condene. Não posso te negar esse direito.
Mas dê-me o direito, de não compartilhar a expressão superficial e passional que jorra de ti.

E se o que ofereço de mim, essa imensa e complexa rede de ventos, não te for aprazível, lamento. Fique com a última e amarga lembrança e negue as outras trocentas tantas boas que ofereci.

Cada um enxerga a vida como bem prefere sentir.

Guardarei as boas lições e  alegrias que me concedeu.

Guardarei o seu sorriso, que pra mim é a única coisa que salvaguarda, dentro da insensatez que se instalou.

Guardo os laços, e nego os estilhaços. Prefiro guardar o que ficou de paz.

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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Eu, que só desejei me encher de felicidade...

                               
                                                             Nicoletta Ceccoli
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Talvez passe... assim como todas as coisas passarinho que voaram sobre minha cabeça comendo minhocas, e depois foram para longe.

Mas a dor, enquanto algo em carne viva sangrando abundantemente, só encontra refúgio nas palavras.

Alguns vão dizer sobre meu exagero. Outros sobre a minha insistente expressão dramática. Outros falarão do ego arragaido que escurece a minha visão empática. Alguns falarão sobre a superficialidade marcando as pegadas da minha existência. Outros falarão da minha tola superioridade e rirão de tamanha aberração. Outros falarão da minha insistência na inverdade.
Um ou outro sorriso, será compreensão.

E é pra estes que escreverei. Primeiro, escreverei por mim. Nada mais natural, já que sou, como constataram, um ser vidrado no meu umbigo e completamente apático ao meio circundante.

Se não há utilidade em minhas palavras, que tenha serventia ao meu próprio expurgo.

Ser dissecada em cima de uma mesa fria, não é algo que cause prazer. E muita análise, pode trazer uma interferência drástica do superego em nossa psíque, através do sentimento de culpa.

Sinto que há um certo prazer sádico em culpar e achar culpados. Alguns chamam de justiça. Os dedos apontam numa só direcão. Risadas soam cínicas, falando por trás de algo que não possui dimensão e nem pode ser analisado pela superfície.

Isso é o que mais causa dor. E todos os abraços que eu dei? E todos os sorrisos que gentilmente distribuí? E os ouvidos preocupados e estavam atentos às histórias de cada um? E todas as vezes que pronunciei a palavra amizade?

Amizade.

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O cursor pisca esperando o dedo digitar as próximas palavras, mas não aparece nada. Fica ali, a palavra soando no meu sentir, raspando seu significado nas paredes arranhadas.

O que mais dói, junto com todas as outras dores que dóem muito, é este baú que tanto tentei preservar, ter sido escancarado e jogado ao mar com todo o seu conteúdo.

Dói também, tudo ter sido em vão.

Dói, não acreditarem no meu intuito digno.

Dói, as bocas que não escolheram palavras e jogaram larvas nas minhas melhores plantações.

Dói, o meu medo que paralisou a  luta pela verdade.

Dói, acreditarem que não houve importância.

Dói, só perceberem o absurdo, e não a mágica do sentimento que brotou.

Queria ser um furacão.
E destelhar as casas;
E quebrar os vidros;
E suportar os riscos;
E romper a maldição.

Queria voltar no tempo, e jamais ter me deixado levar por ondas tão aparentemente seguras em águas sedutoras.
Nenhuma mereceu sequer um terço das lágrimas que derramo hoje e as outras morimbundas que escorreram no passado.

E por mais que eu tente não acreditar que foi pecado, sempre há o outro lado acusando meu lado torto.

Juro, estou cansada. Cansada de ser julgada por corações ocos, que ouviram de minha própria boca os meus murmúrios desejosos de felicidade.

Quem eu mais me importo, já não mais se importa.

Se há alguma espécie de alívio ou redenção, deixo aos seus pés o meu lamento. Tudo que não fiz foi fruto das melhores intenções.

Não há conforto para a minha dor, mas eu sei que a cada escolha a vida nos obriga à uma renúncia.

Renuncio o que restou.

Restos. Se ainda resta sobrevida, deixem-me engolir o restante da minha dignidade.

Deixem-me.

Vou chorar para sempre saudade da  amizade que se foi.
Vou chorar para sempre saudade da verdade que um dia acreditei existir.

Eu, que só desejei me encher de felicidade...

Hoje, choro de saudade.

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Últimas palavras.
A novela  acabou.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Só a verdade liberta

Salvador Dali
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Coadjuvante de uma história de mil facetas; por isso sou toda alívio. Compartilho a nobre coragem protagonista de só desejar a própria  felicidade.
E quem ousa atirar a primeira pedra? Que ouse navegar em si; abra passagem nas águas límpidas da verdade. No fundo todos estamos sós, e só em busca do nosso melhor.

Que todas as bocas se fechem para todos os superficiais achismos;
Que a luz seja feita para a escuridão de todas os costumes sem sentido;
Que a paz brote em flores nos corações otimistas e enlaçados em compreensão;
Que a dor seja aliviada, pela pureza de dias melhores que virão;
Que nunca seja tarde para a verdade que nos espreita, quando a paz toca nosso sorriso.

Choro felicidade em gotas de amizade.

Metade de minha alegria, é o seu sorriso.

E quando amanhecer de novo em todos os corações, o dia findará  a escuridão. Há de se respirar um novo ar, em um novo tempo.

As ilusões libertinas, pouco a pouco se despreenderão. Só a verdade liberta, de qualquer peça que o suposto destino prega. Nesta reza, o que realmente vale é a sinceridade do coração. E disto, o seu está cheio, e para sempre livre; para navegar buscando o porto que melhor te abriga e  faz sentido.

Que assim seja.

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Com todo meu amor... palavras para uma pessoa muito especial,  que admiro por sua determinação. Estarei sempre ao seu lado, sendo as palavras que seu coração precisa ouvir, e sendo o apoio impulsionador de sua coragem.