terça-feira, 31 de agosto de 2010

Da minha boca? Nada.

Picasso
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Da minha boca? Nada.

Talvez do meu sorriso de canto
Do meu olho chispando fogo
Da leve tensão facial que se cria
Do sonho no fundo da teoria
Da melodia e do silêncio.

Mas da minha boca, nunca mais.

Nem ais, nem sais, nem o açúcar
Muito menos o mel e o néctar
Nem a chave de meus portais.

O que permanece é um intruso.

Um inquilino folgado de horas covardes
Abrindo a geladeira
Deixando pingar água da torneira
Desarrumando a cama
E pendurando o quadro inerte.

Com sinceridade?

Não há parte que haja sol
E nem parede que não arda em calor
Mas aqui não há essa insolência que preparou
Nos teus arcos encharcados de desamor.


Com sinceridade?

Eu fecho a boca e expresso com o resto
E se para alguma coisa ainda presto
Eu afirmo sem sombra de dúvida
No ato gêmeo da meia verdade
Eu minto para você
Você mente para si.

Mas perdoe-me e não se irrite
Se não deixo de perceber
A sua pele arder
O seu gosto querer
O seu rosto queimar
E a sombra da dúvida no seu olhar...

Negue-me seu amor para sempre
Mas não negue o que simplesmente sei.

Se nos enxergamos com olho de rei
Somos cegos ao nos recusar
E se eu ainda enxergo o teu querer tão manco
Me espanto!

Você nada tem para me oferecer.

É raso, feito prato sem comida
E ainda responsabiliza a lista
Dos requisitos não preenchidos.


Apenas deixe minha boca calar
O que a sua nunca teve coragem de confessar
Continuarei advogando no processo
De expulsão do intruso tão obscuro
Me livrarei da saudade das coisas sem futuro
Mas tão deliciosas, para não serem paridas

E esse dia chegará...
E esse dia será... primavera!
Verás... primavera em meu coração.

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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Rosa Carmim


Salvador Dali
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Um dia, tão entretidos na pétala, perderam-se dos caminhos.
Um dia, tão perdidos na inércia, feriram-se com os espinhos.

Rosa Carmim foi despetalada.

Chatearam-se com a pele que fora rasgada.

Acusaram-na de revoltada.

Rosa Carmim chorou orvalho ao amanhecer,
Tão incompreendida e pálida em seu ato falho.

Com o raiar do sol em luzes tão reconfortantes,
Percebeu que deveria exalar mais perfume e instante;
Pediu ao seu jardineiro para voltar a lhe cuidar:

-Ficarei feliz se puder voltar. Só não se esqueça de luvas usar. Farei questão de sempre  florescer e exalar o meu melhor aroma às noites. Mas os espinhos estarão sempre lá, a não ser que tenha amor e paciência para retirar, um por um, sempre feliz a cantar.

Rosa Carmim sorriu.
Haveria sempre alguém para reconhecer toda a sua beleza e incerteza.
  Toda a contradição e a paixão de uma flor tão comumente especial.
 Impossível negar os espinhos intrínsecos de sua essência.
Já abrir-se em amor, era o ato mais comum e indescritível de sua presença.

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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sina

Leonardo da Vinci
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Minha sina é 'estar' Monalisa.
Mas preferia bem mais um quadro de Frida.
Se esta vida me obriga ser mais ' da Vinci' que 'Kahlo', me calo e pago o pato da mudez perspicaz.
Me tingirei de pastel pálido.
Que saudade das cores!
Que saudade do carmim, que tanto me representa!
Que saudade das tintas fortes pingando e espalhando o melhor e pior de mim!

O sorriso se mantém calado, misterioso em significados.
As mãos aprisionando os famosos gestos tresloucados.
A loucura, respirando disfarçadamente por debaixo da feição santa.

A alma em constante ebulição esfria... e espia sorrateira.
Sorri Monalisa e respira Frida.

Hoje pétala. Amanhã espinho.
Só para preservar o caminho de uma alma.
Minha alma para sempre...carmim.

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domingo, 22 de agosto de 2010

Cazuza me entenderia

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Cazuza me entenderia.

Se estivesse aqui na minha frente, após o meu destilar de mágoas à respeito da minha vã intensidade beirando a idiotice, ele riria alto e livre, fumando seu cigarro e mexendo o copo de vodca na mão.  Me perguntaria:

-Que dia nasceu?

-Eu nasci dia 3 de abril, Cazuza.

Sua risada, soaria cínica e sonora, mas acima de tudo, compreensiva. Ele diria, divertido:

- Eu nasci dia 4 de abril, menina. Sou ariano. E ariano não pede licença, entra, arromba a porta. Nunca tive medo de me mostrar. Você pode ficar escondida em casa, protegida pelas paredes. Mas você tá viva, e essa vida é pra se mostrar. Esse é o meu espetáculo. Só quem se mostra, se encontra. Por mais que se perca no caminho.

-Eu devo me perder no caminho para me encontrar? - perguntei, ainda com a lágrima tola escorrendo, borrando o rímel no olho já sem brilho.

- Você deve se jogar, menina. Naquilo que acredita, naquilo que respira. E respirar, respirar. E se amanhã lhe faltar o ar, não se importe. Apenas vá atrás de outro aquário que te ofereça oxigênio. Mas nunca deixe de respirar, jamais seja como as outras pessoas que merecem piedade, pela caretice e covardia de viver do mesmo.

Ao ouvir as palavras duras e ao mesmo tempo de uma extrema doçura, que só um ariano é capaz de pronunciar, toscamente me vi chorando ainda mais. A alma dele me oferecia colo. Me senti ninada por aquele espelho projetando o melhor de mim.

-E o amor, Cazuza? Onde fica o amor? O que fazemos com essa pedra no sapato que nunca se importa de ferir os pés?

-O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo, indo embora. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga idéia de paraíso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem vinte e quatro horas. Morrer não doí. Amar sim. Não adianta desperdiçar sofrimento por quem não merece. É como escrever poemas no papel higiênico, e limpar o cú com os sentimentos mais nobres.

Foi um tapa. Na cara? Não. No sofrimento imbecil de toda a incompreensão alheia. Cazuza me entendia. E se Cazuza oferecia sua bandeira de conciliação e conforto, por que chorar?

Enxuguei as lágrimas. Pedi a ele com os olhos que me cantasse uma canção. Prontamente, ele pegou o violão. Dedilhou hesitante, soltando pensamentos com o passar dos dedos nas cordas. Depois olhou-me por detrás dos óculos que já não mais se importava de usar, e disse:

- Menina, menina. A vida é breve feito uma canção. E única. Não a desperdice em vão.

E começou a cantar uma das melodias que eu mais gostava.

♫"Pra que mentir, fingir que perdoou..."♫

Chorei bestialmente. Às vezes eu tinha a plena certeza que eu era feita de metade sal e metade água. Como tanta lágrima podia escorrer de um ser de carne, osso e amores iludidos?

No final, ele me fitou sério, como se lendo cada letra do meu rosto escrevendo poemas nas expressões proferidas. Eu ri, adivinhando seus pensamentos. "Chega de chorar, né?" Assenti com a cabeça e por fim, pedi com carinha de criança:

-Eu vou me deitar aqui e me cobrir com a sua melhor canção. Ela vai me confortar durante essa noite, vai  sussurrar no meu ouvido as melhores palavras de esperança. Cante para que eu possa dormir, Cazuza. Só você me entendeu neste dia frio. Cante para mim, com e por todo amor que houver nessa vida...

Fechei os olhos. Abri um sorriso quando ele começou:
"Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida..."♫

Meu dia haveria de chegar. E é preciso saber esperar. Lutei para que não tirassem o sorrindo da canção. Eu sabia que esperar sorrindo, é mais importante que apenas ficar parado, aguardando uma solução. Como uma boa ariana como Cazuza, a gente chora, berra, se desfaz e destila a loucura. Mas nada retira o brilho, a fortaleza e a cura do sorriso sempre tão limpo e lavado. Sincero.

Dormi profundamente com o Cazuza me acariciando com a canção.

♫"Pra poesia que a gente não vive, transformar o tédio em melodia...ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida, e algum remédio antimonotonia."♫

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domingo, 15 de agosto de 2010

Aceno

Klimt
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Algo respira tímido, mas com fôlego nos pulmões. E aquele velho adeus, está sempre quase pronto no aceno do sonho, mas parece um eterno ensaio sem data para estrear.

É um sagrado e malvado abster; é quase semente que espera passar o inverno e chegar a primavera, para enfim brotar forte e seguro de novos dias acima das profundezas da terra.

A lágrima que cai triste, também guarda as cores do arco íris; assim como lhe contou a fé que existe dentro das melhores aspirações.

Nesta vida, tudo é transitório. Saber olhar pela última vez para todas as coisas felizes ou infelizes e prosseguir é um ato que compõe a trilha da felicidade.

Se as palavras estão cada vez mais gêmeas, paridas de almas que anseiam pelas mesmas rimas e canções, talvez seja apenas uma coincidência.

E acreditar na coincidência de todas as causas inexatas do destino, não me conforta. É um peso nas costas, como se a predestinação fosse uma obrigação em dias de sol ou chuva.

Chuva...não é de hoje que venho pedindo para que ela molhe meu coração ressecado por desilusões.
E que o sol volte a aquecer a gélida neblina que encobriu o sorriso do amor.

Mas o melhor de tudo, é que o fôlego permanece intacto à espera dos atos de fantasia e poesia.

Respiro.

Há de se respirar eternamente. Há de se esperar eternamente.

Quem morre para a esperança, morre para seus sonhos.
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Labirinto

Salvador Dali
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E se eu me perder, tentando achar o portão no labirinto do seu coração?

Que eu me perca!

Que eu me jogue ao chão, espalhando meus cabelos no teu corpo nu.

E que no enrosco de pernas e bocas, o frio veja o reflexo do calor através das nossas faces rubras de desejo.

E quando partir, que eu possa ainda sentir tuas paredes frias e me embrenhar nas suas fantasias, em cada lâmpada que acende quando a noite chega.

E quando voltar, que voltes branco como a lua, para me encher de gozo na madrugada das ruas dessa paixão.

E ao amanhecer, entre lençóis e raios de sóis que brotam por detrás das montanhas de nossos corações, sejamos mais a sós, mais sorrisos e gentilezas. Que a alegria seja nosso combustível.

Arranca-me em camadas, deixa-me nua, coma-me crua.

Desabrocho aos seus olhos, e já nem me importo.

Sou tua nessa rua de paralelepípedos.

E se um dia acabar -como tudo um dia se acaba e se transforma- eu terei vivido. Poderei espalhar pedacinhos de uma história completa: começo, meio, fim e mais um milhão de descobertas.

O mais importante de estar junto é o que se apreende para si.

Mais valioso do que achar a saída deste labirinto, é se perder; para então se encontrar.

Mas saberei sem arrependimentos que vivi entre as brumas do seu coração.
E que desbravou da relva até a selva da minha alma- carmim- espinho -pétala.

Se a rua é comprida, eu não sei.
Se a rua tem casas, eu não vejo.
Se a rua tem nome, não leio.

Mas é rua.

Dilua-me no caminhar do desejo.

Estou líquida.

Venha beber. Venha vi-ver!

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Apreender


Salvador Dali
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Aprender.

Apreender.

Como pedrinha preciosa nas mãos, apreendo cada pedaço de saberes espalhados, nos tantos lagos que compreendem os rios que um dia desembocarão no mar infinito do conhecimento.

Um dia, podem roubar sua liberdade. Seu dinheiro. Sua saúde, paz, seu amor ou dignidade. Mas o conhecimento nosso de cada dia, aquele que adquirimos em cada experiência viva e pulsante e que se transforma em sabedoria, ninguém nos tira. É único. E para a alegria daqueles que amam doar, o conhecimento é transferível e passível de se multiplicar. Eis a dádiva de ensinar.

O mundo tão infinito e majestoso, se processa numa velocidade e quantidade que jamais apreenderemos por completo; exceto as pequenas frações daquilo que nossos corações mais anseiam e lhe fazem sentido, que serão engolidos.

E apenas os ouvidos e olhos mais atentos é que absorverão pequenas porções do conhecimento. O mundo está aí para ser digerido com toda a nossa melhor fome.

Que a fome nossa de cada dia sempre exista, que jamais sejamos apenas um nome jogado ao relento das oportunidades que se foram.

O nosso melhor, é o sol de cada dia quem nos dá.

E que ele sempre seja reluzente em nossos corações.

Eu quero morrer, sem jamais perder a fome por apreender.

E aprender, será sempre apenas uma consequência natural da curiosidade volátil em sobrevoar o horizonte infinito ao nosso redor.

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Apenas um mimo em palavras, como lembrança da alegria sentida ao pisar os pés nesse novo momento da minha eterna busca por apreender o saber.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Antídoto

Nicoletta Ceccoli
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A extensão de uma eternidade.
É muito para você percorrer?

O alcance das estrelas.
É alto demais para você?

Um sopro
Um grito
Um sussurro
O infinito
É possível para você?

Em círculos, em vícios
Em qualquer lugar
Que não esteja
Em algum lugar
Que não esteja

A mágica da vida
É saber dar sem receber
Mas como não chorar,
Se somente sobra falta?

Talvez eu deva me perder
No caminho da redenção
Mas o que farei,
Se ainda assim encontrar?

Um porto
Uma palavra
Uma chave
Uma saudade
O aconchego do seu olhar...

Veste a minha loucura
Que eu calço sua certeza
E jura que não me nega
A posse da minha cura

E se eu extrair o antídoto do esquecimento, no veneno do teu desejo?
E se eu me distrair no passeio louco do vento, que sopra do teu beijo?

Mas jura que não me nega
A posse da minha cura...
Mas jura que não me nega
O antídoto da tua mistura...

♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•
Para todos aqueles que amei e que jamais foram capazes. Para aqueles que amarei, e jamais serão capazes. A extensão de uma eternidade e o alcance das estrelas é para quem persegue o além e ama  brilhos mortos estelares. Eu quero continuar perseguindo; jamais fugindo daquilo que me faz sentido. Até o dia que sempre finda qualquer murmúrio abafado do mundo do amor. Até o dia que outro brilho louco de um olhar, me cegar...
Cega, seguirei...intensa e serena como sou capaz de ser. Talvez inesquecível, talvez imperceptível. Talvez, indecifrável em minha grandeza escancarada. Mas sempre, unicamente eu e pra sempre eu.
E feliz, mesmo que a felicidade me escape às vezes, quase que por um triz...