terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Amém

                            Romero Brito               
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Eu plantei palavras e gestos, sementes de minha alma, em cada terreno fértil que encontrei...

O que colherei?

Vou colher esperanças perfumadas de dias inesquecíveis, beijos azulados, sorrisos ensolarados, meu suor de trabalho, meu recomeço, minha paz, meu sossego, meu aconchego, meu sucesso, minhas realizações, vou colher os sonhos esquecidos, a minha vitória.

Vou te colher maduro do pé, e meus dias terão gosto do teu querer. Vou colher estrelas ao anoitecer, a chuva que lava e limpa, vou colher garra e determinação, vou colher melodia e canção para ninar meu coração de quem faz acontecer, de quem ama a arte e faz dela sua espada de luta e glórias.

Vou colher amor, vou plantar amor, respirarei amor...

Re-nascer! Re-viver! 

IN LAKES´H  #2010


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domingo, 20 de dezembro de 2009

Canção Recolhida




Klimt

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♫Santos sacrifícios
Eventuais lamentos
Sanando futuros dissabores
Curando ais emitidos


Não mais me chegue
Com esse olhar tão seu
Tão calado, tão guardado
Emudecendo a cada grito meu

Seu sorriso de canto
Cantando desculpas
Que não encaixam
Não acabam


Sonhos desvalidos
Insensatos, perdidos
Senteciam desejos
Descabidos

(Refrão 2x)


Vá tão só
E me deixe com esse pó
Que eu recolho em canções

Santos sacrifícios
Eventuais lamentos
Sanando futuros dissabores
Curando ais emitidos

Não mais me chegue
Com esse olhar tão seu
Tão calado, tão guardado
Emudecendo a cada grito meu

Seu sorriso de canto
Cantando desculpas
Que não acabam
Não encaixam

Sonhos desvalidos
Insensatos, perdidos
Senteciam desejos
Descabidos

(Refrão 2x)

Vá tão só
E  me deixe com esse pó
Que eu recolho em canções

Assim será melhor
E cada pormenor
Será mantido
Esquecido
Recue, guarde seus passos
Seus laços frágeis♫

(Refrão 4x)

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Composição de Camila Custodio e Erlan Ribeiro feita em nov/2009.  (Link para escutar a música no título)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Você pra mim...




Marc Chagall
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Você pra mim tem todos os sons.



Transbordam em meus ouvidos, incitam meus instintos, me convidam a ficar e me deixar levar por melodias tão doces. É um tilintar suave e ao mesmo tempo imponente, é um cantarolar sonoramente encantador.

Você pra mim tem cor de mar.


 Azul penetrando-me gigantescamente. A imensidão de água molhando meu coração, trazendo bálsamo, uma calma que a minha alma há muito não sentia.

Azul regenerador, purificador, misturando-se ao meu carmim intenso. Sereno azul me deixa púrpura com nossa mistura.

O azul do céu, o azul do mar, o azul que está em tudo, que domina e ensina a sorrir além do horizonte.




Não tem nada de impactante. É uma pacífica sensação viciante.


É navegar em mares calmos com marolas a beijar o barco. É não ter destino, nem direção. Só se perder na imensidão.


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"Você pra mim" é um texto que anseia em ser publicado, mas por enquanto está censurado. Se revelará pouco a pouco, frase a frase, num enorme quebra cabeça literário.
A boca fala daquilo que está cheio o coração. Mas minha boca ainda permanece soterrada nos escombros do silêncio.
Um dia, só existirão os sons, eles preencherão todos os espaços.
Devore em pequenas porções. Saboreie suavemente.
E especialmente permita-se apenas, sentir...




terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O destino ri da minha cara!


Salvador Dali

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O destino ri da minha cara!

Sou o saquinho de papel rodopiando ao bel prazer, como no filme Beleza Americana.

Alguém filma meus rodopios lancinantes, girando em torno das mesmas coisas, e se diverte com isso.

Ele me atira ao céu e depois me lança ao inferno, brincando com meus sonhos e sentimentos.

Quando tento tomar as rédeas e sigo incansável como Édipo tentando fugir do meu destino inexorável, fugindo das previsões do oráculo grego, eu, assim como o protagonista e antagonista grego, deparo-me justamente com o implacável mestre, o mestre que me faz curvar diante de sua imponência.

Imponência essa que machuca e acaricia meu coração sensível.

Canso de fugir e rendo-me aos seus caprichos. Sou uma aprendiz obediente. Curvo-me. Mas lá vem ele de novo, a me maltratar, a me cansar com seus jogos de poder e sedução.

Transformo-me numa rebelde, numa Antígona que não se conforma com leis humanas e vai contra Creonte. Termino meus dias, derrotada e feliz porque agi de acordo com minhas convicções.

E ainda mais, quando volto a andar pelos trilhos que escolhi, lá vem ele de novo a rir da minha cara, lá vem decepções e amarguras!

Transformo-me então, numa Medéia enfurecida. Urro, contorço-me, mas não aceito que brinquem de tal forma com sentimentos tão puros. Torno-me uma devoradora de corações, pra que meu próprio coração se salve de toda a lama que insiste em me devorar.


E como diz Joana, Medéia brasileira  belamente retratada por Chico Buarque e Paulo Pontes na peça "Gota D´Água":


"Pra não ser trapo, nem lixo, nem sombra, objeto, nada.

Prefiro ser um bicho, esta besta danada..."


E canto um canto sem fim, um pedido eterno, lamuriando aos cantos, o canto ecoando aos quatro cantos:


♪ "Deixe em paz meu coração,

Que ele é um pote até aqui de mágoa,

E qualquer desatenção, faça não,

Pode ser a gota d' água." ♪


E assim vou vivendo. Seguindo minha paz,  procurando ser justa, boa.

Ora fugindo, ora me entregando ao destino.

Esse Deus que me castiga e me abençoa, me ensinando que viver sem amor, não é viver.

Que o amor universal é a cura pra os meus males e feridas.

A vida me diz: "Ame, se doe, sem esperar nada em troca."

Por isso amo teatro.

Por isso amo educar.

Por isso amo aqueles que não me compreendem.

Mas amo muito mais, aqueles que me aceitam como eu sou.

Uma garota imperfeita em busca da imperfeição.

Pois, através das falhas, chego ao céu, ao universo.

E assim sigo, feliz!

Pois, mesmo sendo ironizada por este ser implacável, sou uma eterna aprendiz.

Estou de braços sempre abertos!

Sigo adiante, sabendo que meu dia chegará.

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(Reflexões sobre minha vida, personalidade, acontecimentos, teatro, relações, comportamentos, crenças.
 Escrevi em junho de 2008, mas achei cabível pelo momento que estou vivendo, publicá-lo aqui, um ano e meio depois.)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Bololô



Klimt

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Basta sentir sua presença por perto.


Mil portas se abrem, escancarando desejos que se escondem por trás delas.

Vislumbro sua figura, seu porte atlético de coxas delineadas por seu futebol às quintas.
Longe, olha-me com seu olhar inconfudivelmente recolhido, dentro dele guarda sempre os melhores segredos que escapam fugidios, às vezes  revelam-me detalhes.

O sorriso, é o mais irressistivelmente sexy e levemente misterioso que já vislumbrei. Na verdade, oculta apenas palavras, mas explode em significados cada vez que ergue suas pontas para os lados.

Fico de longe te olhando.

Nem sei dizer como estou, do outro lado da porta. A placa de aviso bem ao seu lado diz: “Cuidado, pista em obras”. Mordo os lábios, levemente nervosa. Releio a frase de alerta, mas minha atenção escapa para o seu contorno. E a frase perde significado. É como se momentaneamente ficasse cega ou até mesmo analfabeta e enxergo borrão ou um conjunto de símbolos sem nexo.

Ficamos instantes na fronteira nos observando. Tento ler seus pensamentos. Tento ler os meus. Eles perpassam tão apressados que chegam a inexistir. Resta somente um instinto, um impulso.

Impulso.

Instinto.

Insano.

Profano.

Soberano.

Sagrado.

Desejado em pensamentos fugidios que batem em portas proibidas e saem correndo apressados e arfantes!

Quem ousa cruzar a linha de partida e partir em direção a imensidão?

Você ou eu?

Não sei quem inicia o primeiro movimento, apenas finda a paralisia muda de controle racional.

Finda qualquer externidade, findam os pensamentos contraditórios, findam os murmúrios abafados de “melhor não”. E como dois tresloucados de desejo, nos jogamos na mesma direção.

O bololô que se segue é inexplicavelmente prazeroso e inenarrável.


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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Silêncio e som, cortando o ar em fatias.





Van Gogh
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Sabe avião passando no meio da nuvem? Iluminado pelos raios de sol, hóspede da morada das estrelas, veloz como o tempo que passa rápido quando se sente em paz, sem piloto e sem rumo, automaticamente suspenso no ar.

Ar...

O ar o eleva feliz, o abriga, o abastece de atrito para que sua sustentação seja perfeitamente segura. Voar  torna-se absolutamente prazeroso.

É no ar que todas as ideias rodopiam felizes, à espera de antenas para captar suas facetas, à espera de almas que a propaguem como verdades, como crias artísticas. E capta-se tudo, com velocidade e ânsia de um super-sônico rasgando o céu. Amplia-se a percepção do ser e estar; traz um bem estar, um bem viver e sentir.

Lá de cima, tudo é um vislumbrar de cores e formas. As grandes coisas vistas embaixo,  tornam-se pequenas do alto, da mais alta perspectiva que amplia sentidos e sonhos. Há massa homogênea lembrando-nos que nada é permanente ou fixo, tudo é efêmero e móvel. Há grandeza e beleza  nas cores do azul mar contrastando com loiros reflexos do sol. Há um enroscar de luzes artificiais da aeronave no céu com as luzes cadentes que as alturas ofertam.

Lá em cima, a paz. A inquietante paz, que traz o fervilhar de criar vida, misturada com a pacífica inquieta sensação de naturalidade, de fatalidade suave de gostar-se de estar ali.

Silêncio e som. O silêncio da imensidão do céu misturado com o som da passagem pelo ar.

Tranquilidade e iniquidade misturando-se num voo único.

A delícia e a beleza de estar nas alturas, cortando o ar em fatias, captando estrelas no céu em forma de melodias, da aeronave que roça a nuvem embalando-a em sons, em contemplar o além, a poesia das montanhas e pastos tão modificados por uma perspectiva diferente.

Um voo sem rumo definido. Com ausência de pilotos, trabalhando no automático, sem direção certa. Ele balança ora pra lá, ora pra cá.

Leste? Norte? Oeste? Sul? Qual seria a direção?

Perambular entre os quatro pólos, significa voar em círculo. O círculo integra, agrega. Simboliza totalidade, eternidade e harmonia universal.

É aliança simples e perfeita.

É tudo numa coisa só. Não se limita e não se fixa, apenas coexiste, coabita com o todo.

O avião vagueia na moradas das estrelas com a benção de suas luzes. Sofre leves turbulências vez em quando. Se vê diante de uma escolha: ou entrega-se a uma direção ou une-se a todas.

Despreocupado ele segue.  Distrai-se com o cintilar da estrela cadente que cai ao seu lado.

Veloz, faz um pedido sobre seu voo:

-Que seja infinito enquanto dure. Majestoso, límpido, belo, impávido colosso. Que o meu futuro espelhe essa grandeza...

Ao terminar seu pedido, continua sobrevoando a realidade limitada, entre silêncios e sons entrecortados por fatias do ar que o sustenta. O silêncio e os sons lhe mostrarão o rumo, o prumo, a direção.

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domingo, 1 de novembro de 2009

Gesto. O ato que fala por si.




Renoir

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Gesto

Um gesto singelo e milhares de significados. Guarda em si uma vastidão de universo em pensamentos e sentimentos. Comunica indubitavelmente mais que mil palavras, mesmo na sutileza paralisada. De dentro de si, palavras pululam gritando verborragias insanas. E ele está lá, muitas vezes quieto, estático, porém resignificando. Nunca é silencioso, por mais brando branco que seja. Diz-me gesto, porque és tão majestosamente  poético?

Contemplo-te! Abasteça-me com as histórias que conta  através dos fios que tece em cada um de seus passos, neste tear de paisagens tão ricas que vou guardando em meu baú imagético e de felicidade. No meu baú artístico, de atriz necessitada de repertório para penetrar almas alheias e desvendar seus grilhões.

No baú de contos e causos, onde as memórias  utilizam o corpo para compor verdadeiras estórias.

Estórias tocantes.  Tocam o núcleo macio de nossa sensibilidade e nos lançam à uma perspectiva mais ampla do que nossa mera realidade de quatro paredes: a realidade do outro, a realidade da empatia, tão necessária em dias egoisticamente tristes da contemporaneidade.

Para completar, cito Artaud. Nos debruçamos sobre ele para compor nosso processo artístico, onde o texto é mero pretexto e as ações físicas (soma de gestos) são nosso ponto de partida.

"A encenação torna-se um trabalho essencial em que está em jogo a substituição da poesia da linguagem por uma poesia no espaço que se realizará precisamente naquilo que não pertence exatamente ao domínio das palavras."

Antonin Artaud

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Reflexões de uma atriz, à partir da observação de um exercício do processo de criação da Cia. Corpos Insanos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Acordes ecoando d´alma...


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Música faz parte de meus sonhos mais secretos e os mais expostos.
Respiro, vibro diariamente acordes ecoando de minha alma.
Tantas luzes cifradas de poesias, melodias ritmando com meus passos neste palco chamado vida.

Viva a arte! Viva a música!
Salve, salve, essa boa gente que vive de cantar com amor e por amor!

Salve Chico Buarque, o maior dos maiores, Lenine que lê e decifra nosso povo brasileiro, Zeca Baleiro e suas balas de iogurte caseiro, Caetano Veloso cantador veloz de prosas, nosso "ministro Gil" gingando entre rampas e cordas de violão!

Salve Cazuza, Barão, Legião e nosso rock da geração Coca-Cola que ainda faz escola no nosso coração!

Salve Bob Marley e sua fumaça que mistura-se a nuvem de poeira do chão batido da Jamaica, compondo neblina de paz com palavras de "Don´t worry be happy"!

Salve, salve ao rock and roll do rei Elvis! Salve a psicodelia de Pink Floyd e nossos DJ´s contemporâenos de Psy Trance! Viva os Beatles, em cada faixa de pedestre  ainda nos deixamos  estar no "Let it be" de nossos passos.

Viva o samba de nossas escolas! Viva Noel Rosa, pois a cada vez que vamos trocar de roupa, entoamos célebre canção.

Viva a Chiquinha Gonzaga, nosso querido Pixinguinha e seus choros inconfundíveis, viva nossa bossa-nova cantada pela rainha Elis Regina e tocada por Tom Jobim, difundindo nossa música em palcos nova iorquinos.

Viva os clássicos Vivaldi, Mozart! Viva Beethoven que mesmo no silêncio absoluto, ainda ouvia a música que pulsava de si e transgredia o branco da ausência no som do piano de forma insana.

Viva e salve a arte independente brasileira e tantas bandas e artistas que utilizam ferramentas cibernéticas e negam-se a serem abusados pela indústria  fonográfica manipuladora, passando pelo escrotismo poético de Velhas Virgens e lirismo absoluto de O Teatro Mágico.

Viva aos que ainda vão ver suas rimas nas bocas alheias, bandas como Galápagos e seus cascos de amor e união através do mesmo som!

Viva as bandas que utilizam sons de nosso povo  como Móveis Coloniais de Acaju e A Barca, entoando cantos distantes dos sertões por aí.

Viva!

Seria incansável ao citar tantos e tantos artistas que fazem nossa alegria diária!


Quem nunca se lembrou de uma fase da vida, pelas canções que escutava?


Mais uma vez: SALVE!


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domingo, 25 de outubro de 2009

Minha metade história


Marc Chagall


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Foi assim...

Quando senti o abismo entre nossos reflexos no espelho, ao perceber que nossas imagens estavam distorcidas num exagero de proporção, me senti impelida a fazer algo. Algo efetivo que me protegesse de um precipício gigantesco que se abria à minha frente.

Cair, seria fatal.

Estar ali na beira sem eira já abria uma chaga doída e sofrida. Abria lágrimas passando por medos ferozes na realidade que se impunha.

Como uma pilha de dominós que vão caindo, meus sonhos foram tombando um a um, em uma rapidez assustadoramente cruel. Com lágrimas ao ver tudo despencando, lembrei-me de peça por peça erguido em cada doce momento em que vivi ao seu lado.

Sabe aquele doce sorriso maroto que soltou leve ao me ver passar a primeira vez? Foi a primeira peça.

O som que ecoava em minha alma quando acordei após aquela noite, cada pedacinho dela, vibrando notas de alquimia, sintonia rara e completude, foi a segunda peça.

As primeiras palavras ligeiras batendo no portal virtual, abrindo portas de uma nova realidade romântica  suave.

A primeira conversa de MSN com tantas trocas de letras de canções, em especial aquela que marcou o início, a canção que diz que ninguém sabe o fim. Da primeira vez que meus pés tocaram seu chão, que escutei os solos da guitarra, que sorri com seu sorriso, que minhas mãos imaturas tentaram em vão imitar sons agudos do seu instrumento ruivo.

A primeira troca de verborragias, num intenso compartilhar de tantas sonhos e sentir idênticos.

E o momento mais fatal: o primeiro verdadeiro olhar. Aquela enxurrada de luzes de sua íris me penetrando absurdamente. Ali, senti algo inexplicável e assustadoramente fantástico. Como um deja´vu potente impondo lembranças que nem existiram, pelo menos não nesse espaço de tempo. Que luzes tão lindas eram aquelas me inebriando de eternidade? Só uma expressão me vinha à cabeça insistentemente, leve e saltitante: Pra sempre, pra sempre, pra sempre! PRA SEMPRE!

Ali, na troca de olhares profundo, vários dominós foram erguidos de uma única vez. Apenas com esse olhar, me apaixonei pela sua alma, talvez porque refletia a minha.

Em seguida veio o abraço. E que abraço! O calor que emanava dele trazia ondas de paz como um barco que navega em mares calmos e iluminados por azul e dourado do sol.

Inevitável neste misto de sensações, que nossas bocas se unissem, pois nossas almas desejavam-se fundir imediatamente. E o beijo nasceu sereno, numa suavidade com sabor de fruta do pé, doce e inédita, com aquele frio na barriga de quando roubamos do pomar do vizinho, sabe?

Em seguida, foram tantas emoções que nem dá pra descrever. Só posso dizer que dormir virou luxo, pois os pensamentos pululavam de você para você. E quando os pensamentos se acalmavam com sua voz no telefone, restava  saudade que não cabia no corpo, na casa, na cidade e nem no universo de tão grande!

E quando a saudade ultrapassava o cosmos inteiro e nossas íris doíam de falta uma da outra, restavam  madrugadas companheiras, guardiãs de nossas trocas irreais. Lembra disso? Dos torpedos que brotavam ao mesmo tempo revelando nossa sintonia única?

Do amor no branco duro do chão restando marcas na pele, das risadas e grunhidos no meio, na citação de sociologia, teatro e poesia emanharado com beijos, gemidos e sincronismo único.

Até aí, apenas na metade de nossa história, todas as peças brancas com pontos pretos estavam erguidos em distancias e medidas perfeitas.

E por motivos inexplicáveis, a mão do Deus esbarrou em todas as lindas peças do dominó.

Assisti assombrada a ruína. E o pó.

Lágrimas, lágrimas, lágrimas. Era quase sangue que jorrava de mim pelos olhos. Era quase metade de mim. Era quase a alma, a calma, o sossego, a paz. Era meu sorriso que ia embora pela falta do seu, pois ele é aquilo que mais amo, que mais acende meu coração ao sentir você.

E foi por ele que fiz tudo. Que me despreendi de amarras de rótulos, que insisti tantas vezes ao seu lado para espiar o passado, que me livrei de ciúmes infantis e te deixei livre como pássaro. Foi para ver meu maior tesouro reluzindo. Seu sorriso é tudo pra mim. É o meu.

Quando sobrou pó e deparei-me com a altura em que estava, tratei de voltar lentamente. Procurei com calma um bonito lugar iluminado, perto de uma frondosa árvore e cavei um buraco, sem ajuda de enxada. Com as unhas e as mãos, com toda a força que me restava para enterrar todo aquele pó. Enterrar todos os sonhos sentidos que de repente perderam sentido.

Com uma força descomunal de quem queria profundidade, cavei fundo. O mais longe que pude.Em breves momentos, a nostalgia dos sonhos erguidos se erguia intrometida, mas ignorei, fechei os olhos e ouvidos para tudo que me lembrasse você.

Olhei para todas as cinzas. Sorri com tristeza, mas ao mesmo tempo sorri por dentro porque imaginei que sorria em algum lugar e com quem estivesse. E foi-se. Toda a cinza. Sem questionar-me se fazia certo, só queria me livrar do peso da dor.

Joguei toda a terra por cima. Fiz uma prece de despedida e felicidade, transformei num passado sentimento entoado por minha voz, cantando novas bênçãos, implorando ao sol uma nova luz a iluminar meu sorriso para sair à toa por aí.

E parti para novas experiências. Te deixei com as suas. Guardei no peito e nos recônditos as mais profundas lembranças tão únicas e parti sem medo.

Um dia, tive que retornar naquele verdejante pasto. Afinal, festas e canções me chamavam com freqüência. Queridos compatriotas de arte pediam minha presença e como a saudade do universo de um mundo de cascos era grande, retornei aos meus.

E seu sorriso nesse encontro me explodiu em mil pedaços de novo.

Ignorei que poderiam nascer flores no local do enterro.

As vi tão belas e perfumadas e vislumbrei um lindo jardim de amizade. O mesmo compartilhar de antes, com alguns detalhes a menos.

Feliz de poder respirar o mesmo ar com cheiro novo a invadir meus pulmões, canalizei todas as minhas energias para isso. Fazia muito sentido, afinal, não era pra sempre, sempre de alguma forma, jamais morna?

Por ora, uma lembrança fugitiva me assombrava, mas ignorava e seguia em frente, feliz porque chegou a primavera e o jardim estava maravilhosamente lindo. A sua nova paixão era uma bela orquídea solitária e misteriosa. Te vi admirando-a tantas vezes, e mesmo que isso me causasse em pequenas doses uma pontada, seu sorriso era o mais importante.

Orgulhava-me de transformar tão belo amor em amor maior despreendido.

De repente você cisma comigo nesse novo papel. Implica com minhas falas, replica as ações físicas que criei, procura falhas na minha atuação sincera como atriz entregue e insana que sou.

E encontra.

Encontra falhas trágicas por todos os lados. Encontra falhas em falas, intenções e coloca em xeque meus estudos sobre Artaud, Meyerhold, Stanislavski , Peter Brook e todos os outros contemporâneos que falam da arte de atuar.

Coloca-me na parede e me escancara verdades que de tão enterradas, nem sabia mais que existiam.

Vai cavucando meu jardim de flores, de fininho. Abrindo espaço para o que estava enterrado ressurgir.

Vislumbro o buraco assombroso cheio de pó que enterrei.

E a dor ressurge justamente das cinzas.

Implacável e feroz.

Ela coloca o dedo na minha cara e diz:

- Você enterrou prematuramente e num impulso. Não deu tempo de chorar os restos. Não deu tempo de olhar para trás. Saiu correndo sem pensar, e quando porventura pensava, obrigava-se a não pensar.

Mais lágrimas, mais metade de mim, mais lembranças doces voltando.

Por que? Pra que? Não era mais fácil me deixar com a minha atuação sincera e ingênua que aos poucos iria se transformando em maestria?

Não era mais fácil ir cultivando esse novo jardim florido, mesmo que às vezes me machucasse levemente com espinhos? Não valia mais o perfume que minhas narinas inspiravam do que leves ferimentos nos dedos?

Um dia aprenderia a não mais me machucar, já que o tempo ensina tudo.

Mas não. Você insistiu em dizer que no papel de jardineira de sonhos, eu não encaixava.

Qual o papel que me resta então? Uma mera espectadora de orquídeas e primavera? Sentia-me feliz de cultivar nossas flores, comungar com você companheirismo.

Sim. Talvez você tenha razão. Talvez exista sentimento. Tamanha imensidão do que senti ,de tão grande foi impossível de ser enterrada tão rapidamente e definitivamente. Talvez restem cinzas a mais, sonhos abafados.

De que adianta tudo isso se me falta convicção que você seja convicto do amor que sente por mim?

Não há o que se fazer. Apenas sermos o que nos resta e isso me basta.

Basta saber que está feliz.

Acho que nunca vai entender tamanho sentimento que tenho. Como disse, é tão extraterrestre, desafia a teoria da relatividade e todos os limites da razão. É confuso, nem ele se entende a devaneios e emanharados de sensações e pensamentos.

Não quero pensar o quanto seria lindo se a reciprocidade fosse igual. Se a convicção fosse igual. Se ignorasse falhas trágicas que eu porventura tenha. Se parasse de buscar felicidade sempre além, quando ela está bem ali num holofote iluminando seu palco. Se não fosse tão confuso, tão apegado ao passado. Se fosse mais maduro e tivesse aprendido que amor é algo tão mais sublime que paixão. Que amor é mais amizade e companheirismo que inebriantes sensações causadas pelo torpor da paixão. Que é simples, que se basta. Que muda de forma, mas é pra sempre.

Não quero pensar em quantas músicas comporíamos juntos. Nem o quanto você me incentivaria a me jogar na arte e sobrevoar minhas inseguranças. Nas risadas e nas pirraças que trocaríamos todos os dias, ou boa parte deles. Nos telefonemas intermináveis, nas encenações sexuais que bolaríamos, nos beijos de tantos tipos, na imprevisibilidade que nos acompanha, na doce companhia e conforto de um abraço e um carinho trocado. Nas nuvens que contaríamos no céu e na adivinhação das formas que elas têm. Na chuva do fim de tarde que nos entregaríamos explodindo em risadas e brincadeiras de crianças molhadas. Nos sonhos compartilhados e conquistados juntos.

Não quero pensar nas assombrosas semelhanças que nos unem e nem nas diferenças deliciosas que nos atraem. Não quero pensar que ao seu lado poderia viver pelo tempo que tivesse que durar, cheia de experiências ricas e diferentes. Não quero pensar que seria tão livre, leve com sabor de chocolate com pimenta.

Não quero pensar em nada.

Então, não me cutuque mais, se sua alma se joga em direção oposta a minha.

E cutucar não significa evitar assuntos de seus cultivos e sorrisos. Significa não falar de nós.

Não quero pensar que conheci alguém assustadoramente compatível, com sintonia rara e tudo foi guardado num baú escrito: Passado Sentimento.

Não quero pensar nos milhares de “e se?”...

Você tem razão. Percebi pela quantidade de soluços e água que escorreu d´alma madrugada adentro, que ainda te amo. Mas de que adianta? Não quero pensar.

Vou enterrar de novo. E definitivamente.



Como diz a próxima canção que logo ouvirá minha: “Vá tão só e me deixe com esse pó que eu recolho em canções.”

Farei mil canções se necessário pra expurgar tudo de ti que ainda faz questão de pulsar.

Ajude-me  nesta tarefa. Apenas enterre junto comigo o que vivemos em vão.

Beijo o chão ao me despedir.

Sim, seria lindo. Mas não foi. Sem lamentos vou-me mais uma vez. Quando voltar, sabes: silêncio pra sempre, pra que o pra sempre, sempre exista entre nós.

Beijos de amor eterno de tantas formas de uma ridícula...

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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Passado Sentimento

♫ Saindo pelo ralo
Indo num estalo
Saindo pelo ralo
Que pena era o meu amor

Não quero futuros arrependimentos
Quero toda sorte em sortimentos
Quero formas de calor
Pra curar a minha dor
Quero a minha paz
De sorrir à tôa sem mais
Quero a minha luz
Minha música

E a música
Que agora toca em mim
É a música
Que despertou no fim

(Refrão 2x)

Então vá
E não volta mais
E não pense não
Em olhar para trás


Por todos os lados
Os meus acordes são passado
Por todo momento
Eu canto
Um passado sentimento
Que pena era o meu amor ♫

Composição de Camila Custodio e Erlan Ribeiro feita no mês de setembro de 2009.
Link para escutar e baixar: http://bit.ly/3pjpio

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Insanidade


                                
     Salvador Dali

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Em minhas costas, não enxergo luz.

Em minha frente, enxerto deserto em vida.

Tudo é um sem sentido, tudo é um sem sentir.

Pergunto-me, quando vislumbro da janela um zigue zague incessante de carros passando: Qual o sentido?

Qual a sanidade contida na contemporaneidade das relações que escapam pelos dedos, como grãos de areia?

Corpos que passam apressados, apanhando da correria, sendo açoitados pelo pouco sono, marcados pelo excesso de olheiras, pelo balancear dos ônibus lotados, pela tensão do trânsito parado, pela parada brusca do freio do metrô, por não olhar para os lados, por não sentir.

Sentir? Qual o sentido de sentir? Não se sente, por mais que se tente. Não se pensa, por mais importante que seja o pensamento. Vegeta-se entre a primeira e a infinita última festa, o primeiro e o infinito trabalho, entre o primeiro e o infinito estudo.

Sobra o pó.

Poeira úmida que gruda, que impregnada na alma causa desesperança.

Desânimo, desencanto projetado no consumismo exacerbado.

A insanidade de sermos líquidos, de escorrermos feito água pelos canos de esgoto.

De navegarmos no mar escroto de dejetos produzidos pelo egoísmo, execrado no dia de nossa mudança.

Enquanto isso, olhos insanos vigiam a noite e o dia, corpos insanos repousam na loucura à procura de mais sossego, aconchego de sentido, para sentir e viver sãos.

Um dia são.

Um dia grão.

Um dia pão.

Um dia coração.

Um dia não.

Não mais aceitar estar na beira sem eira, sem chegar, avançar em direção ao precipício.
Será o início da redenção o jogar-se no fim?

Fim...

Qual será o nosso fim?

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Texto construído para o processo de criação do espetáculo da Cia. Corpos Insanos.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A partida que me partiu

Frida Kahlo


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Misto de lágrimas e riso.


Foi assim que se foi. Foi assim que nos deixou.

Em rumo ao desconhecido verbo “viver”, em busca de si mesma, de mais.

E aqui, sobraram “ais” que misturam-se a outras interjeições, ou ao emudecimento total, entrecortado por lágrimas.

A gente só sente o tamanho do buraco que fica, quando somos jogados nele. Te ver partindo, me partiu ao meio. Alquebrada, me sinto metade. Precisamos de solavancos como esse para repensar sobre elos. Rimos, não damos importância diante da correria, da diferença, mas o elo está lá, e nos cobra ferozmente diante da partida.

Esse feracidade sinto em cada parte da metade que sua partida me fez.

Mais uma vez emudeço.

O coração fala mais que mil palavras...

E o meu agora grita, berra por você!

Te amo, mana!

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domingo, 30 de agosto de 2009

Planeta In lake´sh

Romero Brito
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Ouço o ruído do mundo. Esse zun zun zun irritante, gritante, repetitivo. E concluo, como a canção de Renato Russo: “Tenho quase certeza que não sou daqui!”

É a política nacional que não se ajeita. A mesma novela repetitiva, com os mesmos bandidos e mocinhos. E no meio da trama, os papéis vão se misturando, não sabemos mais quem é o vilão, quem é o mártir, quem é o salvador da pátria.
Vivemos numa selva de bichos estranhos, onde os próprios bichos não se unem pra apagar o fogo da selva. Preferem cada um se esconder no alto da árvore. E assistir os que não conseguem sequer andar, crepitar, se decompor em cinzas embaixo.

É essa mídia nojenta, dando foco aqueles que dão péssimos exemplos. É esse monte de lixo e banalidades que a televisão oferece aos milhões que os assistem. Influenciam mentalidades mal preparadas, que só se submetem à realidade que conhecem. É essa alienação que estimulam, para servir mais ainda ao sistema econômico que nos suga até o talo.

É essa mania nacional, de bater palmas aos artistas lixo, preocupados com sua imagem e cifras. Aqueles artistas que se amam na arte, e não ao contrário. Que não utilizam seu instrumento artístico para mobilizar, conscientizar, cutucar, além de levar beleza, encantamento a esse mundo tão fustigado.

É essa mentalidade escrota, machista, mesquinha de nossa sociedade. Que priorizam costumes estranhos, só pelo ato do hábito, da tradição e não se questionam se são válidos nos dias de hoje. É essa mania de pré-julgar, de não abrir-se à empatia, de não enxergar com amor os diferentes e tentar aprender com as diferenças.

Eu, filha da arte, do utópico sonho de educação, eu que sinto o mundo por poros sensíveis, sonhadores, me ressinto com essa nuvem de poeira. Vivo no meu próprio mundo, tento com minhas armas tão frágeis modificar algo em mim, para poder transformar algo no outro. São os afetos-reflexos me movendo em direção ao que acredito.
Me sinto extraterrestre diante dos assuntos em voga. Dos programas de televisão, das notícias que se repetem, das mudanças bruscas e insensatas da nossa contemporaneidade.
Talvez esteja errada e a vida me ensine a pensar diferente.
Mas simplesmente não consigo me encaixar nesse modelo, nesse conceito, nesse contexto.

E ficou ouvindo esse zunido absurdo, que a mim não faz o menor sentido.
Sonho com meu planeta “In lakes´h”, tão diferente daqui, redondinho, azulzinho, colorido, vibrante e alegre como uma tela de Romero Brito.
No meu planeta, a Arte é o Deus, e é pra ela que agradecemos todos os dias!
Namastê!

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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O que resta?

Edgar Degas
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Resta o nada.
O vazio.
A lembrança.
O desenho imaterial de tantas cenas vividas, vai se apagando lentamente. A dor se sobressai vitoriosa, implacável, permanentemente remexendo, cutucando, raspando nas paredes da sanidade, arrancando pinturas, reboque, desgastando os tijolos.

A dor física, um fisgar, um torcer no peito, oprimindo, comprimindo, sugando o que havia de bom, domina. Somente a boca se abre. Escancarada e muda. O som não sai. O medo não se esvai.

Tudo permanece. Rígido, molhado, denso.

Sombra. A pesar o coração.
Peso. A sobrepor-se na escuridão.
Não existe consolo, remédio. É a constatação cruel, que o que existia, não mais vive além de nuvens de algodão nas mentes dos que amam, a rodopiar no salão da morte.
O silêncio entrecortado por espasmos. Por soluços delirantes.
A loucura aparece como libertadora da opressora realidade. Entregar-se ou debater-se?
Entregar-se a dor, debater-se para a realidade?
Debater-se na dor, se entregar a realidade?
Não há escolhas, não há caminhos.
A terra abafando os últimos resquícios de uma vida que existiu. Abafando sorrisos compartilhados, de tantos sonhos sentidos, de sentimentos intensamente vividos. Abafando suor, lágrimas, cheiros, sensações, imagens, de expectativas, de sangue a correr nas veias, de palpitações, de vida!
De uma menina...
De uma doce menina... que se foi para sempre.
E a dor, tão gigantesca, transforma-me num ser tão pequenino.
E as pequenas lembranças, são o que restam para não me esquecer das grandezas. Da grandeza de menina que era. Que é, e pra sempre será, pra aqueles que te amam. Para mim.
Vá e voe, lindo anjo doce, nas nuvens de algodão.Traga-nos a chuva, a banhar-nos de paz e imensidão.

(Texto escrito a partir de uma vivência para a construção de minha personagem, para o curta metragem "Cerimônia". Elisa, perde a irmã mais nova, de apenas 17 anos, repentinamente. Dedico a um grande amigo, Vini, mais conhecido como "Cu", que perdeu o pai recentemente. Dedico a todos que já tiveram uma perda irreparável como essa. Que Deus, possa confortar e iluminar nossos corações. AMÉM)



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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Eu...

Salvador Dali

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Eu...

Que venho me afastando de mim.

Não sei mais.

Não sei em que cais é meu porto.

Não sei que me resta, que me aguarda, que festa frequento.

Eu, que tão certa sempre estive, faço minha sesta do outro lado do muro.

Eu, que sempre tão junto, agora me separo, me afasto, encaixo, renasço, despedaço, refaço, aumento meu cansaço, diminuo o espaço entre o eu mais profundo e o eu superficial.

Trilho caminhos desconhecidos, ou até quem sabe tão percorridos, mas de qualquer forma sombrios, pela negra luz do afastamento do sonho, apenas iluminado por cifras cintilantes tão merecidas.

Me encontrarei nesta imensidão que me encontro perdida?
Me perderei nesta estrada que encontrei?

Não pense, não fale, não sinta...

Faça, aja, lute, corra, queira, participe, seja!

Pólos de alegria e dor, de certo e errado entrelaçam-se e confundem-se.

Na dúvida resta a alegria.
No sorriso, resta a interrogação.

Do mais, nada mais, siga o coração.
Seguir adiante, sorrindo!

As escolhas vão abrindo caminhos e tais caminhos fazem nossas escolhas.

Escolhas escolas de vida. Escolas escolhas de vida.

Que assim seja...até o momento que minha alma me chamar de novo...


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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Cereja em cena, boca voraz em cartaz!


Klimt


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Numa bela tarde de inverno, depois de ter ganhado o maior bolo da história, percebi que haviam me transformado em uma cereja. Daquelas bem vermelhas, bem redondas, apetitosas, daquelas que sente-se o cheiro a metros de distância.
Definitivamente, uma cereja.
Tentação para dedos ávidos e desejosos de um furto súbito, subitamente mastigando e engolindo pelo prazer da conquista a todo custo.
Ora, se uma cereja tão singular, em destaque a uma massa de bolo homogênea, pode causar tanto impacto a terceiros, por que deveria me menosprezar tanto? Da conjunção de tantos bolos, de tantas mancadas alheias, voltei a ser vermelha e fatalmente deliciosa à espreita de ser espreitada por algum voyer ansioso por me devorar.

Sim... Devorar!
Nada de mordidinhas, de economias, de pequenos acessos, de bocas pequenas com pequenezas contraditoriamente confusas. Definições práticas, com um manual prático na mão: “Como devorar uma cereja rara e faminta de ser deliciada”.

Cansei de me fantasiar de bela adormecida esperando meu príncipe acordar do pesadelo que se encontra , me beijar e caminharmos pelos contos de fada felizes! O conto de fadas, diga-se de passagem, só existiu em minha mente.

Percebi, num estalo, que apenas eu vivi um amor, e amor que é amor se vive a dois, com dois pares de olhos, duas bocas, dois corpos num só, no máximo com quatro pernas entrelaçadas dançando como cabelos de medusa. Só números pares, só a sós, só a dois, só somente um amor, chama única, infinitos beijos, suor, temperos e aromas.
Triste a constatação de que algo tão magnificamente construído, erguido com tanto desejo de concretude, seja um castelinho de contos de fada de areia, que ventos do sul, uma ventania tão impiedosa, tenha arrastado tudo consigo.
O fato é, que nem mais cutucou. Nem mais doeu. Nem mais chorei. Quando percebi que a areia estava toda no chão, fiquei olhando com um distanciamento obrigatório de quem derramou muitas lágrimas a construir pedra por pedra. Uma bruxa má que transformou minerais em areia.
Fiz um pacto com a felicidade. Disse a ela; que expulsei a tristeza pra “far far away”, e daqui pra frente só ia querer quem me quisesse, e já que em troca de tanto amor me deram um enorme bolo, eu viraria a cereja na vitrine ofertada ao primeiro que quisesse devorar-me com dignidade.
Precisamos ás vezes nos ansiar, caminhar em nossas entranhas, lamber nossas vísceras para então finalmente percebermos que tamanha delícia não merece ser desprezada assim sem mais, menos, divisão e multiplicação. Que a nossa porcentagem é absurdamente maior que a raiz quadrada do número mais elevado que conseguimos calcular, e que temos nosso imenso valor!
Portanto, meu anúncio a quem quer devorar-me:

“Uma bela cereja, tristemente solitária em cima de um enorme bolo, o maior que já tive, procura um devorador com um enorme apetite, com um estômago grande, vazio e ávido de uma pequena e apetitosa cereja que irá preencher todos os espaços devidamente, uma mutante, que se transformará na mais farta e nutritiva refeição que seu organismo necessita. Mas atenção: Se o apetite não for muito voraz, nem pense em tocar nesta cereja, que pode se transformar num espinho de rosa, e ferir sua garganta ao passar.”

Impiedosa, como impiedosamente me devoraram com pouca avidez, com belas palavras amorosas tão vazias de atitudes e concretude.

Felicito-me, feliz de estar felicitando a felicidade definitivamente!
E continuo tão apetitosamente ansiosa por ser devorada. Minha maior dádiva é essa. Ao ser engolida consigo exprimir toda a minha delícia, minha textura, meu aroma, meu sabor tão próprio, tão meu, tão mel, tão fel e tão eu!

Eu...Sem querer ser mais que ninguém, apenas eu, mas o eu mais inesquecível que poderia ter passado na sua boca. E sei que quando voltar a amargar o gosto amargo da desilusão, lembrará daquele gosto catártico...

Estarei em outra boca...

Desculpe-me. Não podia esperar tamanha boca fechada se abrir, sem que ela escancarada me mantivesse presa e suculenta, sussurrando insistentemente e verborragicamente o quanto ansioso estava pra me devorar, me comer, se deliciar, o quão seu apetite era vorazmente gigantesco e sublime.
De tão pouca gula, de tão inexistente ronco como sinais de fome, fui convencendo-me que não podia ser uma pílula para abrir apetite. Era apenas eu mesma, tão única e desejosa de você, passando tão desapercebida !

Convenci-me então. E resolvi , sem tristezas nem apegos, a ouvir meu próprio rugido no estômago. Estou apetitosa de desejos sinceros de amor. Faminta.

Faminta de amor. Faminta de amar.

Boca faminta, venha, devorar-me, pra que eu, tão faminta de amor, possa devorar-te!
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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sobre o amor...

Marc Chagall

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Venho questionando-me, reconfigurando, abrindo janelas, portas, deixando muita luz entrar sobre o que é amor verdadeiro, sobre amar e ser amado.
Embora passei por algumas relações com fins dolorosos, todos representaram aprendizado, mas mais que aprendizado, trouxeram transformação pessoal.
De todas os pilares da vida que me fizeram ser o que sou, as minhas relações amorosas sem dúvida, foram ícones de repaginar quem eu sou. E agora, pergunto-me: O que é amor? O que diferencia um amor verdadeiro de uma paixão obsessiva? De dependência emocional? De vício?


Amor tem que vir pra trazer alegria. Mas pra isso, as pessoas envolvidas tem que se sentir completas com elas mesmas. Não adianta amar mais ao outro que a si mesmo. E não adianta amar mais a si, do que o outro. Tem que haver equilíbrio. Amar é compartilhar. E não tem excessos.

Amor traz luz. As pessoas se sentem naturalmente felizes, seguras, completas. Se mudam algo em sua personalidade, tem que mudar pra melhor. Não acredito naquelas relações que a pessoa quando está do lado da outra, se transforma completamente, não age naturalmente. Tem algo de errado, desconexo. Quando amamos verdadeiramente, somos amados pelo que somos, nem mais ou menos. Se tentamos ser sempre o que a outra pessoa deseja, não é amor. O amor aceita integralmente o que o outro é, o ama com todos os defeitos e qualidades que vem no pacote.

Amor traz liberdade. É saber que pode-se não estar junto fisicamente, mas há uma conexão invisível tão poderosa que não se desliga. Há algo em suspensão. É sorrir e enxergar o sorriso do outro em si. É querer que o outro seja feliz acima de tudo, mesmo implicando na ausência, nas escolhas diferentes. É respeitar seu espaço, sua individualidade, seus gostos, sonhos, desejos. É saber que o outro não te pertence, que ninguém é de ninguém, que o amor é livre e não é único e exclusivo. Que o que te liga a outra, é a simples vontade de estar junto, porque te faz sentir-se mais feliz.


Amor traz completude. É aquele sentimento que o outro te desperta o que tem de falta, e o que tem de sobra, falta no outro. As pessoas não precisam ser idênticas, nem concordar em tudo, nem ter as mesmas idéias. Precisa-se haver respeito mútuo e saber ouvir, ouvir a verdade do outro e compreender. Não pode haver anulação. A completude de saber que você é mais completo, porque é compreendido, é valorizado, é amado. Amar é amar inclusive os defeitos do outro. Rir deles. Dar toques, ajudar o outro a vencer, mas não com cobrança excessiva, e sim com carinho e dedicação. Todo mundo tem seus percalços de identidade, e o amor tem que vir pra compreender e te ajudar. Oferecer uma ponte de mudança, não cobrar.

As incompatibilidades são naturais. As desavenças também. Não dá pra imaginar que o amor verdadeiro nunca tem divergências. Elas são naturais, necessárias pra que a gente cresça. Mas estes desafios, tem que vir carregados de muito amor, muita compreensão, de entendimento, não acusações, cobranças. É ser paciente e complacente.

Amor traz leveza. Quando se está junto, sentimos que o tempo voa, o ar fica leve, a gente se sente a gente mesmo. Podemos falar as maiores idiotices, podemos ser fúteis, podemos ser ridículos, podemos simplesmente retirar todas as máscaras. Até porque o outro, nos enxerga sob todas as aparências. Ele é capaz de penetrar em nossa alma, e nos enxergar absolutamente nus. Amar é ser amigo, parceiro, cúmplice. É ver duas pessoas com suas individualidades bem trabalhadas, compartilhando interesses, sonhos, vivências. É sonhar o sonho do outro, mas ter seus próprios sonhos bem definidos e vivenciá-los também. Alguém que vive para o outro e esquece de si, não está amando. Está se alimentando, sugando.

É uma fusão de almas.
É inacabável.
Muda de forma, mas sempre continua sendo amor.
É torcer pela felicidade alheia acima de tudo.
É dividir.
É tolerar.
É se enxergar no outro.
É um reencontro.
É um reinício.
É luz.
São duas chamas ardendo numa só. Um fogo que regenera, que purifica, que transforma.
É catarse.
É vida.

Amor, é pra trazer felicidade. Se não traz felicidade, não é amor. E ponto.

Termino com a frase de Paulo de Tarso, sobre o que é amor.
Linda, perfeita...Utópica? Talvez...Mas acredito que é possível, basta querermos, lutarmos contra as nossas imperfeições que nos trazem a ilusão de posse, vício, ofuscamento, aprisionamento, cobrança. Que possamos ser capazes de deixarmos pequenezas de lado e vivenciar somente as grandezas! Viva o amor!

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca acaba."
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Resoluções!

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Viver o que me compete, o instante, o minuto, o amanhecer do sol sem me preocupar, sem sonhar com o anoitecer...

Respirar o ar momentâneo, vibrar com o que me faz feliz diariamente, sentir liquidez, fluidez...

Esqueça o sólido, o seguro, o perfeito...

Acostume-se em apenas viver como se não houvesse o amanhã!

Intensamente e serenamente!Perfeitamente e justamente!Sempre, a cada ar novo no pulmão, um sorriso, uma luz!

CARPE DIEM
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terça-feira, 7 de julho de 2009

Apenas lua e sol...

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No trânsito, no tédio, na cidade, na escuridão, de repente a imensa luz desponta.

Noite de lua cheia!

Não uma lua comum, não uma lua trivial, e sim uma enorme bola de luz no céu!

Eu tão incomum, comumente passando nos lugares de costume, páro e admiro.

Se ela tão fenomenalmente brilha assim, me dá alivio e esperança de noites melhores, sem nostalgia, sem apegos, apenas de muito brilho e alegria!

No meio do inverno, calor, sol!

Por que água, se tudo está seco, se tudo está no lugar?

Sem chuva em meu coração, apenas lua e sol!

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terça-feira, 16 de junho de 2009

Emudeci...

Frida Kahlo
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Tem hora que é melhor não dizer nada... não pensar em nada, calar-se diante das circustâncias absurdas que se impõem.
Emudecer.
Aquietar a alma, pra que as respostas cheguem. Ou pra que as perguntas mudem.

Simplesmente emudecer.
Eu, na minha intensa sede verborrágica, me calo, paro, canso. Tento enxergar com distanciamento e discernimento.
Vale a pena?

Por isso, hoje e talvez amanhã, não vou preocupar-me com nada. Apenas seguir.

Seguir quieta nas minhas inquietações internas. Tentando silenciar medos, sonhos e deixar que a verdadeira luz se espalhe pelas frestas de escuridão.

Calo.
Paro.
Saio de cena.


Assim me despeço, me despedaço, me refaço, renasço e respiro um novo ar.
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terça-feira, 2 de junho de 2009

Afetos-reflexos

Marc Chagall- I and the village- 1911

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Não encontro uma foto que caiba em mim neste momento.
Não encontro uma frase, um texto que expresse exatamente o que sinto, vejo, desejo, sonhe, seja, neste momento.
Ando tão perdida de mim, como em suspensão a encontrar quem realmente sou!
E quem sou eu?
Não que eu não saiba quem eu seja. Mas, sou sempre tão assim, tão cheia, múltipla, mil facetas a preencher-me. Ora isso, ora aquilo, ora aquilo outro! Ora não mais, ora sempre mais, ora jamais, ora tudo, ora nada!
Quem me conhece que me compre!
Compre meus arroubos mais sinceros!
Compre minhas mais novas paixões!
Minhas mais novas aquisições: artísticas, amorosas, sentimentais, emocionais, psíquicas, filosóficas, políticas ou apolíticas, sociológicas, religiosas, místicas, acadêmicas, lingüísticas, antropológicas, astrológicas...

Compre meus mais sinceros afetos! Sim, são eles que me fazem feliz, que me remetem a um ou a outro caminho. Afetos que necessito pra seguir por essas estradas difusas que sempre me remetem a tantos e tantos mundos.
São os afetos que me movem. Que me dignificam. Que me fazem levantar da cama. Desde os afetos mais supérfluos, os mais comerciais, os mais banais, os mais concretos, os mais verdadeiros, os mais intensos, os mais sem nexo, os mais absurdos (sim, esse me refiro a você), os mais irreais (esse também), os mais inquietantes, os mais tranqüilos, os mais básicos, os mais necessários, os mais imprevisíveis, os mais previsíveis, os mais irritantes, os mais complexos...

Esses afetos se tornam reflexos de mim. Sou o que sou, pelas minhas trocas.
Desde as trocas com meu meio, minha história, meu passado, minha família, meus amores, meus amigos, meus falsos amigos, meus flagelos emocionais, minha arte, minha formação acadêmica ou não, minha semente, minha terra, meu adubo, minha plantação, meus frutos, minha polpa, minha casca.
A energia que troco, que recebo e que dôo, torna-se o sol da minha vida. O que me sustenta e alimenta.
Por isso, sou assim, sempre sincera (acredite se quiser). Sincera de querer gostos sinceros de amor. Amor fragmentado em diversos tipos de trocas.
Claro, vivemos em tempo de crise. Rupturas. Trocas cada vez mais superficiais, virtuais, distantes de valores simples e necessários.
Daí entra a Arte. O Teatro, essa minha paixão, a Arte-Educação, ferramenta tão necessária pra nos aproximar. Aproximar os iguais. Somos todos iguais. Na mesma simbiose universal de energia. Por isso sempre acredito no “IN LAKE’SH”.
Claro, sou imperfeita. Tento cumprir com o que acredito, que penso, que sinto.
Mas, tenho meus vacilos, desvios, manchas... E sou aprendiz. Eterna!
Erro, caio, levanto...Aprendo, ouço, repenso...

Estou na caminhada e avante!
Estou na suspensão de algo que não sei. Sempre me levando a lugares que não sei onde vão dar. Sempre me fazendo andar em círculos, em vícios...
Essa energia que me acompanha, que me guia, que confio e com ela sigo!

Feliz!
Felicidade que sempre se cumpre com pequenas promessas.
Um dia de sol, um domingo de chuva, um canto de pássaro entre os muros de pedra, um sussurro no ouvido, um olhar doce, uma palavra amiga, uma música que me toque, um sino a soar, um novo sorriso desconhecido, um abraço de aluno, um pensamento pecaminoso, uma nuvem no céu, a brisa da manhã, o calor da tarde, o frescor da noite...

Não preciso de muito.
Claro, neste mundinho tão cheio de “inhos” acabamos precisando de sempre mais.
Esses “mais” não preenchem verdadeiramente, mas são necessários.
Vivemos assim: entre os “inhos e mais” e nesse limite razoável caminhemos rumo a sempre nos descobrir, nos modificar, nos questionar.

Quem sou eu?
Será que caibo nesta foto?
Que frase me expressa neste momento?

Nenhuma!
Ufa!
Bem melhor...Assim não me limito e não me fecho. Abertura!
Sempre aberta a novos rumos, novas trocas, que me transformam e me tornam um tiquinho mais louca e rara neste mundinho tão “inho”...

E termino sempre com: "IN LAKES’H", que resume tudo, sempre!

IN LAKES’H

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"Meu maior reflexo-afeto hoje é, o reflexo-afeto espelhado através de ti..."

sábado, 30 de maio de 2009

Chorei...

Marc Chagall, Bride with a Fan, 1911



Chorei...
Porque te amo.
Porque já te amo.
Porque te amar tão rapidamente assim implica em tanto medo.
E tanto amor e tanto medo, trazem tantas incertezas.
E estas incertezas quando se misturam com os fantasmas, trazem tantos abismos.
E nesse abismo, posso precipitar-me sozinha.

Chorei...
Porque te amo.
Porque já te amo.
Porque seu sorriso naquela despedida tinha uma doçura que me explodiu em pedaços.
Despedaçada em amor, em encantamento inebriante de doces sentimentos que me desperta.
Seu olhar, me lançando tantas luzes, juro, eu as vejo e sinto, penetrando profundamente, reverberando em ondas intensas, intensamente deliciosas e conflitantes.

Chorei...
Porque te amo.
Porque já te amo.
Porque encontrei uma estrela que sonhei, mas ainda tão encoberta de nuvens, nega-me a visão radiante e majestosa de toda sua potencialidade a iluminar meus caminhos.
E esse pálido reflexo de seu brilho me ilumina, mas também me cega.

Chorei...
Porque te amo.
Porque já te amo.
Porque voar é tão simples quando se tem asas.
E vejo as nossas, tão lindas, enormes, podadas pelo anjo negro a sobrevoar nossas auréolas.
Anjo negro, que insistimos em temer.

Chorei...
Porque te amo.
Porque já te amo.

Porque é tão simples estar com você, é tão simples ouvir sua voz, tão simples te entender, penetrar na sua alma e identificar a minha. Tão simples ter você, mas tão complicado de aceitar as complicações externas e negar a ausência de desafios.

Chorei...
Porque te amo.
Porque já te amo.
Porque reconhecer nossa alquimia transcendental e se deparar com limitações externas, machuca, fere as feridas mal curadas que tenho que cuidar todos os dias. Feridas que insistem em sangrar quando os medos se impõe ferozmente.


Chorei...
Porque te amo.
Porque já te amo.
Porque a alegria que me traz, a completude, tão rara, tão escassa neste mundo de especiais, me transforma e me dignifica, trazendo a paz imensa que transformei em melodia.
Igual a sua melodia, que insistentemente toca as fibras de meu ser.

Chorei...
Porque te amo.
Porque já te amo.
Porque sua presença em minha vida foi uma surpresa tão deliciosamente fatal do destino, e implica em resignificações, que temo não estarmos preparados.
Reconhecer que podemos talvez ser, as "pessoas certas no momento errado", me faz despencar em lágrimas.

Lágrimas.
Sal.
Sal que pode ser usado pra curar feridas, como antisséptico, como limpeza de profundas rupturas na pele.
E assim, deixo que elas escorram. Quem sabe elas não me curam.
Deste medo.
Desta dor de um dia te perder, sem ao menos ter te ganhado.
Destas sombras que nos perseguem.
Destas arestas a serem aparadas.
Destes medos que insistem em se enraizar.
Destas racionalidades que me cessam de responder a cada vez que ouço sua voz soprando no meu ouvido palavras tão nossas.

Por isso chorei.
Pra me curar.
Já que me curar de você, não sei se é possível.
Pra me curar de mim mesma e dos meus métodos de auto-sabotagem.
E por isso choro.
Porque te amar implica em catarse.
E toda catarse dói.
Lágrimas que se transformam em sorriso.
Dor que se transforma em paz.
Medo que se transforma em plenitude.
E sonho com isso...
Espero mesmo, que a catarse seja completa.
E que ela venha com todas as dores, mudanças, pra no final estourarmos em aplausos.

Te amo pra todo sempre...

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sábado, 16 de maio de 2009

Vôo incrédulo


Marc Chagall- Der Spaziergang- 1917

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Fecho os olhos.
Sinto seu sorriso dentro.
Sorriso que se transforma em beijo.
Beijo catártico.

Abro os olhos.
Vejo flechas multicoloridas de sua íris.
Tantos luzes me penetrando.
Me iluminando.

Fecho os olhos.
Ouço sua voz ao pé do meu ouvido.
Soprando palavras reveladoras.
Resignificando.

Abro os olhos.
Vejo sua mão passeando pela minha pele.
Ouriçando poros, pêlos, anseios.
Alimentando meus desejos.

Fecho os olhos.
Abro os olhos.
Fecho os olhos.
Abro os olhos.

Pisco incrédula!

Se permanecem abertos,
Meus olhos não captam.
Se permanecem fechados,
Meus olhos não captam.

A solução, seria arrancá-los!
Cega, enxergaria com o coração.
E ele me diria:
Sua boba, tire os pés do chão!
Voe!

Eu, que não tinha asas, vôo.

A vida é mais bonita aqui de cima...


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sábado, 18 de abril de 2009

Teu caminhar em mim


Marc Chagall, The Juggler, 1943



Sinceramente, não entendo esse sincero ser, você.
De completude, poesia, querer.

Quero cantar-te!
Decifrar-te, moldar-me a ti,
De uma forma que não perca a minha forma.

Somente, quando assim conseguir estar,
Perceberei teu caminhar em mim.

Com passos lentos, rápidos, fortes,
Com tantas pernas longas, curtas,
Com beijos catárticos, fruindo em minha direção,

No mais profundo intergaláctico universo de dimensão.

É que direi o porque,
Os por quês de sua aparição.
Distinguirei o certo do errado,
O completo do incompleto,
O mínimo e o máximo.

De tudo o que podemos ser,
De tudo que queremos ser,
De tudo que compartilharemos.

Pra sempre?
Pra hoje?
Por ora?
Agora?
Ontem, amanha?

E canto pra entender, pra perceber,

Tudo o que podemos ser,
Tudo que queremos ser,
Tudo que compartilharemos.

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Única


Marc Chagall

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Não venha me reduzir a meros trapos.


Sei que sou um enorme véu esvoaçante a rodar nos bailes da vida!


Não venha diminuir meus sonhos.


Eles tem a força e o tamanho de montanhas sólidas que abrigam o sol!


Não venha me reduzir a conceitos pré estabelecidos.


Sou antagonista e protagonista de mim mesma!


Não venha me julgar.


Não sou o que pensa, nem sou o que penso, ninguém sabe e ninguém saberá!



Sou feita de trapos e véu


Sou feita de sonhos e pó


Sou feita de beijos e cuspe


Sou feita de risos e grunhidos


Sou feita de matéria inigualável


Nem melhor nem pior


Apenas eu mesma e única!


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Salve!


Marc Chagall- "The Blue Circus (Le Cirque bleu)" - 1950

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Quero meu sorriso de novo.
Quero meus olhos marejados novamente ao sentir sua força quando piso no seu chão.
Quero a lua branca esbanjando sua luz em cima de mim na beira da ribalta.
Quero o som inconfundível das mãos se tocando em rapidez entusiástica.
Quero penetrar em uma alma que está presa dentro de um livro ou numa esquina qualquer, e desvendar seus grilhões.
Quero soltar o grito emudecido que habita dentro de mim.
Quero os sonhos de volta da menininha que não conhecia as pequenezas humanas, inclusive as minhas.
Quero sentir que estou indo além das minhas maiores limitações.
Quero poder voltar a ser eu mesma sem medo de julgamentos.

Quero voltar a gritar: MERDA!
Quero poder sonhar os sonhos alheios, sentir dores e alegrias alheias, penetrar almas alheias e assim chegar mais próxima da minha.
Quero te ter de novo... Você está tão enraizado dentro de mim!
Tento me afastar, tento fugir, tento esquecer, mas a sua força me persegue, me consome, me explode por dentro, me suga pra perto sempre!
Ninguém neste mundo é capaz de mudar as coisas mais imutáveis que existem.
E a imutabilidade deste meu amor, deste meu destino, desta força que me leva a você não tem explicação.
Por isso rendo-me novamente ao seus encantos!
Encanto maior que qualquer julgamento, crítica e rejeição.
No momento certo, lá estarei eu aos seus pés de novo!
Salve! Salve Teatro!

dez/2007
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domingo, 12 de abril de 2009

♪ Alquimia ♪



Marc Chagall- The blue lovers- 1914



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Reconheço essa alquimia,
Transpareço o conjugar de tantos verbos em sintonia.

Meço a dimensão do horizonte em comunhão.
A transcender, o simples querer.

O poder de fazer acontecer está na minha, sua mão,
E contemplarmos, aurora boreal.

Transmite, transmuta, um pouco mais,
Dessa imensidão de tanta, tanta paz!

Transmite, transmuta, um pouco mais,
Dessa imensidão de tanta, tanta paz!
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Mergulho infinito


Marc Chagall- Acrobat
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Mergulhando em novas fases, faces, santidades, insanidades...
Mergulhando num novo eu, novas matizes, cores, nuances, texturas...
Mergulhando em novos conceitos, estudos, direitos, defeitos...
Mergulhando...
Um infinito vagar em busca de novos sentidos....
Um infinito sentir desses sentidos!
Um infinito mergulhar na alma, a fim de redescobrir sentidos verdadeiros de luz.
Um infinito mergulhar.
Intenso, revigorante e doloroso.
Em travessia...
Ser a mesma, viver do mesmo, viver do certo, tira-me o encanto de lutar pela vida e redescobrir esse mar  imenso e perfeito desnudar  meus olhos.
Sou feliz, tenho uma imensidão a descobrir! Morrerei ainda nesta busca, afinal, o mundo é inesgotável.
Portanto: se tem temperatura, tutano, curiosidade, experimentos, vivacidade, jovialidade, despreendimento, alegria e principalmente amor, amor universal, venha sempre preencher-me de luz.
Se és morno, nem frio nem quente, te vomitarei da minha boca.
Se for quente, venha assim, assado, assando, queimando, cozinhando em banho maria, em fogo baixo, esquentando, cozinhando pelas beiradas até consumir-me absolutamente.
Minha travessia tem rumo indefinido mas apenas uma coisa certa: compromisso com a verdade. Buscando sentidos, sentindo sentidos! IN LAKES’H`♥•.¸¸.•♥.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•..•♥´¨

domingo, 15 de março de 2009

Travessia

Marc Chagall- Cantiques IV

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Modifiquei durante tantas indas e vindas meu infinito particular.
Agora, de tão extenso, de tão imprevisível, extraordinariamente multifacetado, como encontrar a outra dimensão?
Todas me parecem previsíveis, normais, estranhas, limitadas!
Onde fica a mais profunda e a mais inebriante parte?

Em travessia...

Para encontrar...

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segunda-feira, 2 de março de 2009

Assopro


Marc Chagall

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Abro as janelas e deixo entrar o sol.
Contra a poeira, mofo, meleira do velho, do passado, do azedo dos costumes arraigados!

Ele desintegra a inércia, o bolor.
Será que inventaram algo melhor que o astro reluzente dourado?
Nenhuma química se equipara com os raios de luz a queimar os brios inebriantes de outrora!

Primeiro passo de muitos passos, da caminhada, jornada de mim mesma, de algo a mais, de tudo sempre, de nada sempre, de quero mais, de corte, de vinda, de gema, de clara, de proteína e de muito carboidrato!

Abro a porta e te convido a entrar. Se puder arrombar e invadir sem pedir licença melhor ainda. Adoro as invasões bárbaras, aquelas que me fazem refém de meus anseios palpitantes enervantes sentimentais e meio boçais, mas altamente necessários pra sentir a intensidade do verbo viver.

Mas se quiser entrar educadamente, devagarzinho, fico grata. Movimentos bruscos assustam e soam demais instantâneos.
Passos lentos, onde o olho inflama o outro olhar, penetrando lentamente, são muito bem vindos.
Venha assim, assado, assando, queimando, cozinhando em banho maria, em fogo baixo, esquentando, cozinhando pelas beiradas até consumir-me absolutamente.
Consumir-me, consuma-me, consumirei e me consumará até o fogo virar labareda e a labareda virar cinzas.
Das cinzas o pó.


E quando esse temido dia chegar, abrirei a janela, o sol penetrará e o convidarei a me trazer novos rumos, horizontes escondidos pelo senhor chamado destino.

Ciclo. Inevitavelmente faço parte desse universo.

Do pó nasci e ao pó retornarei.

Assopra!

Assopro!

Lembre-se: Vaka!


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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Carta para uma amiga

Marc Chagall


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A vida não é feita para aqueles que já tem as respostas prontas!
A vida é feita para os insatisfeitos, para aqueles que transgridem sempre a si próprios, que não se satisfazem com as pequenezas mundanas, que sonham sempre em sonhar e sonham com o sonho que não sabem qual é.
Essa busca eterna de quem somos nós, o que queremos, o que nos satisfaz, não deve trazer angústia ou dor. Estamos todos na mesma caminhada. Infeliz daquele que já acha que descobriu tudo, que sabe tudo, que acredita ter todas as respostas e a chave da felicidade na mão. Estamos aqui pra nos superar sempre, pra nos curvarmos diante do Todo Poderoso e confiar em suas mãos. Seguir com passos firmes, mesmo não enxergando um metro quadrado a frente.
Respire fundo e confie. Confie em si própria, na sua luz, na sua estrela, ela te guiará. Feche os olhos e os ouvidos deste mundo real e descubra seus anseios mais profundos e particulares. Isso acontecerá quando encontrar sua paz, que está escondida no seu ser livre de ansiedade. Não tenha pressa! Tens uma estrada enorme pela frente e tudo tem seu tempo de maturação, de desabrochamento.
Aceite os espinhos e deixe jorrar o sangue. Siga o caminho que dele escorre. Descobrirá a chave do portal da felicidade, em sua dor, sua alegria, sua ânsia por dias melhores. E eles chegarão. Sim, pois ao final deste processo estará mais forte, mais plena, mais confiante. Estará mais certa de qual caminho seguir. E não se frustre se esse caminho te levar a outros que não planejou. O importante é caminhar sempre, estar em busca constante.
Quem morre pros seus sonhos, morre pra vida.
Sinta-se feliz neste momento. Porque te resta apenas a dúvida por onde trilhar, e não perdeu o fôlego e a vontade de trilhar por algum caminho. Só precisa deixar sua alma falar mais alto e ela te conduzirá.
Nossa alma fica ofuscada por essa confusão da vida moderna. Se feche como uma ostra, em seu casulo de paz. Entre em contato com seus recônditos e vai saber. Logo nascerá uma pérola. Reluzente, magnífica.
Confie.
Logo verei um sorriso de luz brotar em seu rosto.
Amiga querida serás feliz. Não há motivo pra medo.
Felicidade é viver e viver consiste nestas dores, angústias, dúvidas, medos e toda alquimia de sentimentos conflituosos!
Respire a alegria de estar experimentando do melhor e pior!
Serás forte e feliz!

Beijo de luz nesta alma linda ofuscada pelo medo. Não se abata. Logo à frente, estará a solução pra tudo...Em você!


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