segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Silêncio e som, cortando o ar em fatias.





Van Gogh
.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•..•♥´¨`.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•.



Sabe avião passando no meio da nuvem? Iluminado pelos raios de sol, hóspede da morada das estrelas, veloz como o tempo que passa rápido quando se sente em paz, sem piloto e sem rumo, automaticamente suspenso no ar.

Ar...

O ar o eleva feliz, o abriga, o abastece de atrito para que sua sustentação seja perfeitamente segura. Voar  torna-se absolutamente prazeroso.

É no ar que todas as ideias rodopiam felizes, à espera de antenas para captar suas facetas, à espera de almas que a propaguem como verdades, como crias artísticas. E capta-se tudo, com velocidade e ânsia de um super-sônico rasgando o céu. Amplia-se a percepção do ser e estar; traz um bem estar, um bem viver e sentir.

Lá de cima, tudo é um vislumbrar de cores e formas. As grandes coisas vistas embaixo,  tornam-se pequenas do alto, da mais alta perspectiva que amplia sentidos e sonhos. Há massa homogênea lembrando-nos que nada é permanente ou fixo, tudo é efêmero e móvel. Há grandeza e beleza  nas cores do azul mar contrastando com loiros reflexos do sol. Há um enroscar de luzes artificiais da aeronave no céu com as luzes cadentes que as alturas ofertam.

Lá em cima, a paz. A inquietante paz, que traz o fervilhar de criar vida, misturada com a pacífica inquieta sensação de naturalidade, de fatalidade suave de gostar-se de estar ali.

Silêncio e som. O silêncio da imensidão do céu misturado com o som da passagem pelo ar.

Tranquilidade e iniquidade misturando-se num voo único.

A delícia e a beleza de estar nas alturas, cortando o ar em fatias, captando estrelas no céu em forma de melodias, da aeronave que roça a nuvem embalando-a em sons, em contemplar o além, a poesia das montanhas e pastos tão modificados por uma perspectiva diferente.

Um voo sem rumo definido. Com ausência de pilotos, trabalhando no automático, sem direção certa. Ele balança ora pra lá, ora pra cá.

Leste? Norte? Oeste? Sul? Qual seria a direção?

Perambular entre os quatro pólos, significa voar em círculo. O círculo integra, agrega. Simboliza totalidade, eternidade e harmonia universal.

É aliança simples e perfeita.

É tudo numa coisa só. Não se limita e não se fixa, apenas coexiste, coabita com o todo.

O avião vagueia na moradas das estrelas com a benção de suas luzes. Sofre leves turbulências vez em quando. Se vê diante de uma escolha: ou entrega-se a uma direção ou une-se a todas.

Despreocupado ele segue.  Distrai-se com o cintilar da estrela cadente que cai ao seu lado.

Veloz, faz um pedido sobre seu voo:

-Que seja infinito enquanto dure. Majestoso, límpido, belo, impávido colosso. Que o meu futuro espelhe essa grandeza...

Ao terminar seu pedido, continua sobrevoando a realidade limitada, entre silêncios e sons entrecortados por fatias do ar que o sustenta. O silêncio e os sons lhe mostrarão o rumo, o prumo, a direção.

.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•..•♥´¨`

domingo, 1 de novembro de 2009

Gesto. O ato que fala por si.




Renoir

•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•..•♥´¨`♥•.¸¸.•♥

Gesto

Um gesto singelo e milhares de significados. Guarda em si uma vastidão de universo em pensamentos e sentimentos. Comunica indubitavelmente mais que mil palavras, mesmo na sutileza paralisada. De dentro de si, palavras pululam gritando verborragias insanas. E ele está lá, muitas vezes quieto, estático, porém resignificando. Nunca é silencioso, por mais brando branco que seja. Diz-me gesto, porque és tão majestosamente  poético?

Contemplo-te! Abasteça-me com as histórias que conta  através dos fios que tece em cada um de seus passos, neste tear de paisagens tão ricas que vou guardando em meu baú imagético e de felicidade. No meu baú artístico, de atriz necessitada de repertório para penetrar almas alheias e desvendar seus grilhões.

No baú de contos e causos, onde as memórias  utilizam o corpo para compor verdadeiras estórias.

Estórias tocantes.  Tocam o núcleo macio de nossa sensibilidade e nos lançam à uma perspectiva mais ampla do que nossa mera realidade de quatro paredes: a realidade do outro, a realidade da empatia, tão necessária em dias egoisticamente tristes da contemporaneidade.

Para completar, cito Artaud. Nos debruçamos sobre ele para compor nosso processo artístico, onde o texto é mero pretexto e as ações físicas (soma de gestos) são nosso ponto de partida.

"A encenação torna-se um trabalho essencial em que está em jogo a substituição da poesia da linguagem por uma poesia no espaço que se realizará precisamente naquilo que não pertence exatamente ao domínio das palavras."

Antonin Artaud

.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•.¸¸.•♥´¨`♥•..•♥´¨`♥•.¸¸.•♥

Reflexões de uma atriz, à partir da observação de um exercício do processo de criação da Cia. Corpos Insanos.