domingo, 1 de julho de 2012

Nuvens


     As nuvens, sempre as nuvens, chegaram carregadas desta vez. Acinzentaram o céu, nublaram o horizonte, se concentraram sob sua cabeça. Impotente, contentou-se a esperar. 
        Fitou o céu, à espera de chuva, ali, da janela de sua casa, onde estava protegida. "Em breve, -sua voz interior lhe disse- deverá sair, e se molhar. A vida não espera o guarda-chuva estar à mão, os pingos caírem antes de chegar no carro, as folhas das árvores serem varridas, antes da enxurrada. A vida não resguarda os acontecimentos, nem mesmo quando você deseja se resguardar deles. A vida lhe peita o tempo todo, exige que esteja sempre de peito aberto, pronto para rasgar as próprias vestes e verbos e te confronta para que dê mais do que está acostumado a dar. Viver, exige que saia de vez em quando, dos casulos que vão sendo criados em nome da segurança e corra riscos. Se prefere ficar fitando a chuva ao invés de se banhar nela, será sempre refém de si própria e  dona de uma secura sem volta."

Vincent Van Gogh
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     A chuva haveria de chegar. Talvez, uma enorme tempestade ou, apenas um presságio em forma de chuvisco. Mas, enquanto observava o movimento da janela, ninava em seus braços uma tranquilidade lânguida. A doçura deste momento, à beira dos acontecimentos, se confundia com o açúcar do chá que bebericava. A doçura de um não com gosto de sim, do talvez, do será, do acaso e descaso, das possibilidades faceiras e das horas que se esvaíam com rapidez. 

    As escolhas, sempre as escolhas, chegaram carregadas desta vez. Acinzentaram as dúvidas, nublaram as respostas, se concentraram sob sua cabeça. Impotente, contentou-se a esperar.

   Fitou a interrogação, à espera da resposta, ali, da janela do seu coração, onde estava protegida. "Em breve, -sua voz interior lhe disse- deverá decidir, e viver."

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