domingo, 22 de agosto de 2010

Cazuza me entenderia

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Cazuza me entenderia.

Se estivesse aqui na minha frente, após o meu destilar de mágoas à respeito da minha vã intensidade beirando a idiotice, ele riria alto e livre, fumando seu cigarro e mexendo o copo de vodca na mão.  Me perguntaria:

-Que dia nasceu?

-Eu nasci dia 3 de abril, Cazuza.

Sua risada, soaria cínica e sonora, mas acima de tudo, compreensiva. Ele diria, divertido:

- Eu nasci dia 4 de abril, menina. Sou ariano. E ariano não pede licença, entra, arromba a porta. Nunca tive medo de me mostrar. Você pode ficar escondida em casa, protegida pelas paredes. Mas você tá viva, e essa vida é pra se mostrar. Esse é o meu espetáculo. Só quem se mostra, se encontra. Por mais que se perca no caminho.

-Eu devo me perder no caminho para me encontrar? - perguntei, ainda com a lágrima tola escorrendo, borrando o rímel no olho já sem brilho.

- Você deve se jogar, menina. Naquilo que acredita, naquilo que respira. E respirar, respirar. E se amanhã lhe faltar o ar, não se importe. Apenas vá atrás de outro aquário que te ofereça oxigênio. Mas nunca deixe de respirar, jamais seja como as outras pessoas que merecem piedade, pela caretice e covardia de viver do mesmo.

Ao ouvir as palavras duras e ao mesmo tempo de uma extrema doçura, que só um ariano é capaz de pronunciar, toscamente me vi chorando ainda mais. A alma dele me oferecia colo. Me senti ninada por aquele espelho projetando o melhor de mim.

-E o amor, Cazuza? Onde fica o amor? O que fazemos com essa pedra no sapato que nunca se importa de ferir os pés?

-O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo, indo embora. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga idéia de paraíso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem vinte e quatro horas. Morrer não doí. Amar sim. Não adianta desperdiçar sofrimento por quem não merece. É como escrever poemas no papel higiênico, e limpar o cú com os sentimentos mais nobres.

Foi um tapa. Na cara? Não. No sofrimento imbecil de toda a incompreensão alheia. Cazuza me entendia. E se Cazuza oferecia sua bandeira de conciliação e conforto, por que chorar?

Enxuguei as lágrimas. Pedi a ele com os olhos que me cantasse uma canção. Prontamente, ele pegou o violão. Dedilhou hesitante, soltando pensamentos com o passar dos dedos nas cordas. Depois olhou-me por detrás dos óculos que já não mais se importava de usar, e disse:

- Menina, menina. A vida é breve feito uma canção. E única. Não a desperdice em vão.

E começou a cantar uma das melodias que eu mais gostava.

♫"Pra que mentir, fingir que perdoou..."♫

Chorei bestialmente. Às vezes eu tinha a plena certeza que eu era feita de metade sal e metade água. Como tanta lágrima podia escorrer de um ser de carne, osso e amores iludidos?

No final, ele me fitou sério, como se lendo cada letra do meu rosto escrevendo poemas nas expressões proferidas. Eu ri, adivinhando seus pensamentos. "Chega de chorar, né?" Assenti com a cabeça e por fim, pedi com carinha de criança:

-Eu vou me deitar aqui e me cobrir com a sua melhor canção. Ela vai me confortar durante essa noite, vai  sussurrar no meu ouvido as melhores palavras de esperança. Cante para que eu possa dormir, Cazuza. Só você me entendeu neste dia frio. Cante para mim, com e por todo amor que houver nessa vida...

Fechei os olhos. Abri um sorriso quando ele começou:
"Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida..."♫

Meu dia haveria de chegar. E é preciso saber esperar. Lutei para que não tirassem o sorrindo da canção. Eu sabia que esperar sorrindo, é mais importante que apenas ficar parado, aguardando uma solução. Como uma boa ariana como Cazuza, a gente chora, berra, se desfaz e destila a loucura. Mas nada retira o brilho, a fortaleza e a cura do sorriso sempre tão limpo e lavado. Sincero.

Dormi profundamente com o Cazuza me acariciando com a canção.

♫"Pra poesia que a gente não vive, transformar o tédio em melodia...ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida, e algum remédio antimonotonia."♫

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3 comentários:

  1. A intensidade de Cazuza é mesmo inspiradora.
    Beijos.

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  2. Fantásticooo... Que viagem, heim!!!!! Atravessando fronteiras!!!

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  3. me vi nesses trexos (amo essa música) a diferença sou leonina

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