sábado, 23 de outubro de 2010

Insanity´s drink

Nicoletta Ceccoli
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- Por favor, diretor. Traga-me aquela dose de martíni e junto o roteiro de outra personagem. Essa boa moçoila Pollyana já me entediou.

Nada veio ao seu encontro. Temperamental, a atriz saiu irritada pela porta do estúdio. Encontrou o ar frio da cidade. Caminhou um pouco, a passos largos. Sua pressa fluía na medida de sua ânsia.

Parou no primeiro bar que cruzou. Sentou e pediu uma dose de bebida. Pensou com seus botões adormecidos: "Bem que podia existir uma garrafa inteira de loucura. Iria me embebedar."

Ficou ali bebendo, tecendo pensamentos absortos enquanto o líquido escorria ardido por sua garganta. Fios de imaginação levavam-na para bem longe daquela estranha e previsível realidade.

Imaginou-se caminhando nua na rua, as pessoas olhando-a chocadas. Descobriu-se transando com o primeiro desconhecido que lhe abrisse um sorriso. Desejou sair com o carro pela estrada sem direção e só pararia quando a gasolina acabasse. Dormiria no meio da estrada tendo como sua companhia as estrelas do céu.
Fantasiou aquela praia de água azul e um beijo salgado sobrevoando seu desejo adormecido. Viu-se dançando livre feito pássaro feliz que sai da gaiola, sem regras, apenas deixando que o corpo a levasse para onde bem entendesse. Pensou na dor nos músculos de seu ventre, após rir horas com alguma situação engraçada que tivesse causado.
Reconheceu-se chorando por algum amor perdido e sem solução; as lágrimas roubando o resto de sanidade que habitava em seu corpo. Imaginou-se amando loucamente, onde tudo e simplesmente tudo, girava em torno da paixão, tirando-lhe qualquer traço de solidão e ordem que pudesse existir anteriormente. Só existiria ela e aquele homem, sem nome e sobrenome, mas com coxas, peito, abdômen e membro. Só existiria pernas, enrosco, saliva, desejo, lascívia e brilhos reluzentes da troca de olhares na escuridão.
Transportou-se para outro país, meditando ao passear sob as ruas, ouvindo desconhecidos falando uma língua totalmente desconhecida.
Quis viver outros anseios, outro corpo, outra vida, outra parte de si mesma que não aquela previsivelmente patética.

Voltou trôpega para casa.
Dormiu.

No dia seguinte encontrou o vazio. E todas as outras atividades e obrigações que alguém, ou talvez ela mesma, impôs.


Sorriu. Talvez a paz estivesse ali.
Chorou. Talvez o inferno estivesse ali.
Ela só queria encontrar o equilíbrio entre o nada e o tudo. A gota diária de loucura, que nos faz sentir que somos um pouco mais do que nossas tarefas e o comportamento viável que esperam de nós. Aquilo que nos faz sentir pulsantes e vivos a cada respiração.

Encontrou o questionamento. Tranquilizou-se. Ele viria resgatá-la do cativeiro de si própria, da dormência emburrecida, da inatividade, dos dias iguais e pálidos, esperando cor, sabor, amor e um pouco mais...só um pouco mais de insanidade.

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Um comentário:

  1. E as perguntas, muitas vezes, nos livram das respostas equivocadas...

    Sei que me entendes...

    beijos, menina má... ;)

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